A crise e a campanha eleitoral

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1. Vivemos, todos o sabemos, uma época de especiais dificuldades. O desempreo é um flagelo terrível, que vitima já muitos dos nossos concidadãos e ameaça ainda muitos outros. Os funcionários públicos viram os seus rendimentos reduzidos com os cortes efetuados nas suas remunerações. As empresas sofrem diminuições alarmantes no seu volume de negócios. A crise que vivemos é real e sentida pelas populações.

2. Esta realidade crua, sucedeu a tempos de otimismo e de irrealismo, em que todos nós fomos convidados a gastar o que tínhamos e o que não tínhamos, na presunção de que nada afetaria os direitos adquiridos, que nós presumíamos ser tão certos e garantidos como o sol nascer todos os dias.

3. Apesar dos avisos da rota de colisão iminente em que estávamos, democrática e livremente, os portugueses maioritariamente escolheram um caminho: votaram no PS e em José Sócrates. Mas, já antes, haviam escolhido Durão Barroso, António Guterres, Cavaco Silva. E à conta destes protagonistas, (uns mais, outros menos e com nuances conjunturais que não são despresíveis) foram-se adiando reformas estruturais e, no mesmo passo, criando “monstros” incontroláveis e dando-se sinais de que tínhamos uma riqueza que verdadeiramente não correspondia à que produzíamos. E, especialmente nos últimos anos, avançou-se desabridamente para o exercício da política e da governação como se fossem um espetáculo mediático, onde imperava a ilusão, a mistificação, o “show-off”, a mentira mesmo.

4. Alguém denunciava as consequências do caminho que se estava a percorrer e era logo trucidado pelos comentadores do regime. Alguém, como por exemplo, Medina Carreira, alertava para o suicídio coletivo para onde as opções governativas nos conduziam, e logo alguém, sobranceiramente, negava e o classificava como um “pessimista militante”.

5. Assim, de ilusão em ilusão, de mentira em mentira, foi-se exaurindo o Erário Público e comprometendo a maioria das receitas futuras do Estado Português em aventuras megalómanas e gastos impensáveis, com a desculpa que era preciso investir para voltar a fazer crescer a economia.

Quando já era visível o muro onde iríamos bater, continuaram os governantes portugueses a garantir que o caminho era esse. E nessa irracional obstinação deixaram passar o tempo e a oportunidade de falar verdade aos portugueses e de corrigir o rumo suicida. E, quando o embate com a realidade se tornou inevitável, acabaram por ter de admitir o que antes negavam e, tarde, de mão estendida, foram, em nome de uma nação humilhada, bater à porta da ajuda estrangeira, da qual resultou o conjunto de restrições e de exigências que o Estado Português tem agora de cumprir.

6. Nos Açores, por mais que a propaganda do regime nos queira convencer do contrário, vivemos já, infelizmente, muitas dificuldades e há muitas ainda escondidas, adiadas, proteladas propositadamente, para não serem conhecidas nem faturadas agora. A pequenez da maioria das nossas ilhas, as limitações do mercado, o predomínio do setor terciário, o envelhecimento populacional, tudo isso condiciona e torna-nos especialmente vulneráveis.

Os números do desemprego nos Açores, vistos na sua perspetiva global e evolutiva, não enganam na sua preocupante tendência crescente. 

O turismo, apontado como o setor de futuro na nossa economia, depois de milhões e milhões de euros gastos, debate-se com a inexistência de turistas para as camas criadas.

A agro-pecuária, o setor produtivo onde os Açores possuem a mais-valia de poder fazer bem e com qualidade superior, tornou-se subsídio-dependente.

E o Estado, mesmo nas ilhas mais pequenas, já não absorve mais funcionários nem consegue ser o polo dinamizador da economia.

7. Será neste cenário difícil que se vai desenrolar nos Açores a próxima campanha eleitoral para a Assembleia Regional. 

Por uma questão de respeito por aqueles que estão a ser vítimas da crise atual, espera-se que a campanha eleitoral seja programada e feita com bom senso, equilíbrio e grande contenção nos gastos. Espera-se que os partidos se centrem nas propostas e se abstenham de excessos mediáticos e de encenação.

O que os cidadãos exigem aos concorrentes é que falem do que querem para o futuro dos Açores, que apresentem com seriedade as suas propostas e que desassombradamente assumam as suas prioridades.

Espera-se também que as propostas sejam concretas e intelegíveis. O tempo da retórica, da conversa redonda e vazia, na qual tudo e nada cabe ao mesmo tempo, passou.

De que nos serve e que credibilidade nos merece um partido e um candidato que vem ao Faial dizer coisas como esta: “A ilha do Faial deve assumir o seu verdadeiro papel de motor e de vanguarda na construção deste novo setor da economia [o do conhecimento do Mar], porque temos as condições para isso, como seja a sua localização geográfica e o Departamento de Oceanografia e Pescas”?!

Depois deste Governo ter esvaziado e acabado de vez com a “Semana das Pescas” (um verdadeiro fórum do conhecimento e da ciência relacionada com o Mar e com as Pescas), é, no mínimo, ter desfaçatez, para vir agora, aqui, nos dizer que o Faial deve assumir o papel de motor num setor que este Governo só não conseguiu esvaziar mais, porque o DOP está cá sedeado e é tutelado pela Universidade.

Mau começo!

 

 

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