A Desflorestação do Faial

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DR/TI
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Em conversas com várias pessoas nas últimas semanas tenho ouvido da importância da Amazónia e do(s) crime(s) ambiental(ais) que nela têm ocorrido, mas poucos têm a consciência que a sua importância excepcional para a Humanidade reside essencialmente no facto de ser o único local que sobreviveu à destruição pelo Homem, pois o que hoje está a ocorrer lá já aconteceu, de umas formas ou de outras, em todo o lado, incluindo nos Açores.

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O que está a acontecer hoje, fazendo uma analogia mal feita, é como se numa certa rua os vizinhos tivessem, aos poucos, destruído todas as árvores e jardins para fazer criações de gado (ou parques de estacionamento, por exemplo), até que um dia restou só uma casa com jardim; o proprietário decidiu que queria abater umas árvores e os vizinhos revoltaram-se porque, se o fizesse, não haveria mais árvores na rua e a culpa seria dele; esqueceram-se que eles próprios, ou os que lá viveram antes deles, fizeram exactamente o mesmo. A diferença essencial para a realidade, além da escala, é que a nossa vida depende da Amazónia. É dever do mundo preservá-la, mas é sobretudo dever de todos nós pensarmos o que podemos fazer para mudar, e é mais fácil plantar uma árvore no nosso quintal que na América do Sul.
Este texto serve essencialmente para lembrar uma realidade da nossa História que está esquecida ou é desconhecida da maioria. Quando os primeiros homens chegaram a estas ilhas encontraram no seu interior densas florestas. A milenar floresta Laurissilva, que tinha já ocupado quase todo o Sul da Europa e Norte de África (onde hoje apenas sobrevivem minúsculas manchas de algumas espécies), preenchia ainda o interior das ilhas. Sabemos que, logo desde o século XV, esta floresta foi sendo completamente destruída, por um lado para criar zonas urbanizadas e de cultivo que permitissem habitar o território, por outro porque as madeiras exóticas aqui existentes constituíam elas próprias um produto de luxo que podia ser exportado e, assim, um meio de subsistência. No caso do Faial, os raros relatos que nos chegam dos primeiros tempos dão conta desta realidade, mas o melhor testemunho está na toponímia. A própria ilha foi baptizada por ser a “ilhas das faias” e um dos seus primeiros povoados (o mais importante depois da vila) tem também nome de árvore – Cedros.
No final do século XVI, pouco mais de um século depois do início do povoamento, o padre Gaspar Frutuoso relata que “mais da metade dela [da ilha do Faial] está cheia de mato e arvoredo baixo. São as árvores cedros, zimbro, folhado, louro, sanguinho, tamujo e românia”, ou seja, uma boa parte estava ainda coberta da vegetação original, a qual, depreende-se, terá desaparecido posteriormente, já no século XVII, enquanto no resto da ilha, muito “lavradia”, se colhia “muito trigo e pastel”. A partir deste relato e de outros documentos contemporâneos (sobretudo um mapa conservado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro que refere a “Serra” no interior da ilha), fiz uma breve aproximação ao que seria o estado da floresta no Faial pelo ano de 1600, que deixo aqui para reflexão.

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Em defesa da Língua Portuguesa, o autor deste texto não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconsistente, incoerente e inconstitucional (para além de comprovadamente promover a iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).

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