A nossa pequenez é enorme

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blankA 800 milhas marítimas de distância geográfica de Portugal Continental (cerca de 1500 Km), os Açores não são apenas uma sentinela avançada da Europa no meio do Atlântico, e, definitivamente, são muito mais do que a sua importância geoestratégica. Em tempo de massificação, globalização e padronização, marcamos, nestas ilhas, uma diferença por sermos um dos últimos redutos do medievalismo português e europeu, por um lado, e, por outro, por constituirmos um espaço de cultura, de ciência e biodiversidade. Escreveu Nemésio que os Açores são “um porta-aviões de 600 Km, tantos quantos separam Santa Maria do Corvo”. Pois bem, esses 600 km que vão de Santa Maria ao Corvo constituem uma distância superior àquela que vai de Melgaço (no Minho) ao Cabo de Santa Maria, no Algarve (561 km). A nossa pequenez é enorme, e bom seria que deixássemos de sofrer desse terrível síndrome da pequenez. E eu sei do que falo porque sou natural da segunda mais pequena ilha do arquipélago. Por isso trago à liça a ilha Graciosa para exemplificar o seguinte: a “ilha branca” possui o maior fundo submarino da Europa e alberga a assombrosa Furna do Enxofre, fenómeno vulcanológico único no mundo. A Graciosa possui um dos mais ricos ecossistemas do mundo, por isso é, desde 2007, Reserva da Biosfera declarada pela UNESCO. Mas façamos outras contas: a Graciosa, com 61 km2 de superfície e 4.000 habitantes, tem uma área superior a Manhattan, com 59 km2 e 1, 6 milhões de habitantes. E Macau cabe por inteiro na minha ilha e ainda sobram uns bons alqueires de terra… Sou graciosense com muito orgulho e saudade. E esta assunção de uma assumida identidade nada tem a ver com o conhecido preceito de José Ortega e Gasset – “eu sou eu e a minha circunstância”. A minha portugalidade renasce e amplia-se na minha açorianidade. Ou seja, eu antes de ser cidadão do mundo, sou europeu, mas antes de ser europeu, sou português dos Açores, e, como açoriano, sou graciosense e, como graciosense, faço questão de dizer que sou natural da vila de Santa Cruz. E é precisamente a partir da vila de Santa Cruz que modestamente aspiro à universalidade. Só seremos pequenos se nos acharmos pequenos.

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