“A Volta aos Açores Contra as Dependências” – João Silva quer sensibilizar e alertar para os perigos das dependências

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O alcoolismo é um dos principais problemas da sociedade atual. O álcool é uma droga como a heroína, a cocaína e o crack porque também vicia.
João Silva sentiu na pele a experiência de ser dominado pelo álcool. Este vício levou-o até a uma clínica no continente onde esteve internado três meses em recuperação.
A experiência foi algo que o “assustou bastante” por isso resolveu através do projeto “A Volta aos Açores Contra as Dependências” partilhar o seu testemunho, sensibilizar e alertar para os perigos das dependências.
Foi a bordo do veleiro “Twisted”, que João Silva falou ao Tribuna das Ilhas deste momento difícil da sua vida.

João Silva, operador de imagem, vivia uma vida “perfeitamente normal” até que alguns problemas lhe baterem à porta. Essas dificuldades fizeram com que ficasse viciado no álcool.
Felizmente conseguiu perceber que tinha um problema e resolveu pedir ajuda. Esteve internado em tratamento numa clínica no continente durante três meses.
Neste momento mais complicado da sua vida, João Silva contou sempre com o apoio da sua família. No entanto lamenta que alguns não tenham a mesma sorte e foi no sentido de alertar para os problemas de adição que o velejador se propôs dar a volta aos Açores no seu veleiro “Twisted”.
“Num passado recente tive problemas com a adição e ainda tenho. Sou um adito em recuperação e a ideia deste projeto é sensibilizar e alertar as pessoas para os perigos das dependências”, explicou.
A escolha do tema das toxicodependências deve-se ao facto de ser um assunto que lhe é “pessoal”, que lhe “toca muito” e porque considera “que ainda é um tema muito tabu”, referiu João Silva.
O velejador pensa que apesar da prevenção que é feita nas escolas, e dos programas existentes, o tema ainda não é suficientemente abordado”. “Eu acho que as pessoas ainda se retraem muito a falar neste assunto”, afirmou.
Para o velejador “as famílias por vezes têm o problema dentro de casa e não falam sobre isso. Ou é o avô que bebe logo de manhã e é uma coisa que ele faz sempre e não se fala no assunto, ou o jovem filho que começou a sair com os amigos e começou a apresentar comportamentos desviantes e de risco e desculpam com o facto de fazer parte da adolescência”, avançou.
É para estes perigos que João quer chamar a atenção. “É para esses comportamentos de risco que eu quero alertar para que as pessoas tenham a consciência que isso se pode tornar num problema muito grave”, advertiu.
No entender de João Silva as famílias e até a própria sociedade “não estam despertas para esta problemática nem preparadas para lidar com esta situação”.
“Primeiro é pela velha máxima que bate sempre à porta dos outros”, depois quando se deparam com o problema, refere o velejador “muitas vezes não sabem lidar com o assunto, a quem recorrer, a quem pedir ajuda, têm vergonha, não sabem conversar com o possível adito”.
Neste sentido, João Silva entende que “tem de haver aqui um trabalho de grande informação para eles poderem fazer essa sensibilização e alertar para esses perigos”, defendeu.
O “aventureiro” reconhece que muita coisa já foi feita e destaca a aprovação recente do projeto na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores que aumentou a idade do consumo do álcool dos 16 para os 18 anos, mas entende que “há sempre muita coisa a fazer em relação às medidas de prevenção”.
Para João Silva “este é um problema muito grave ao qual não se pode baixar a guarda, temos que estar sempre na linha da frente”, uma vez que se trata de um problema “transversal a várias idades”, que pode começar “numa idade muito jovem, com 11 e 12 anos e vai até à idade mais avançada”, adiantou.

 

“A adição é um problema crónico e mortal e mata muita gente”, afirmou João Silva
Questionado sobre a sua dependência, João Silva, confessa que o seu maior vício foi o álcool. “Foi este o vício que me levou ao internamento de três meses e foi algo que me assustou bastante”, realçou.
“Eu tinha uma vida perfeitamente normal até surgirem alguns problemas e a coisa descambou”, comentou o velejador, reforçando que “é exatamente para esse perigo que eu quero alertar as pessoas. Por vezes as pessoas podem pensar que não estão numa situação de perigo até acontecer algum infortúnio na vida. Aí como já têm a propensão para o problema a coisa agrava-se”, reforçou.
O velejador conta que começou como a maior parte dos jovens na adolescência quando começou a sair à noite. “Na minha altura também havia pouca informação e havia sempre a grande curiosidade em experimentar coisas novas e o grande problema é que existe tanta coisa nova e boa para experimentar e eu acabei por escolher uma das piores”, lamentou.
“Posso dizer que experimentei um pouco de tudo”, confessou.
Apesar de estar viciado, João Silva estava consciente que tinha um problema e que este se “estava a tornar cada vez maior”. “No meu subconsciente e em conversa com os meus colegas quando estava na clínica eu percebi que as pessoas têm noção do problema muito antes de o assumirem”, referiu.
“Quando assumi para mim mesmo e para a minha família que tinha um problema foi quando comecei a ter a minha vida toda descontrolada, quase a não trabalhar, a não cumprir com as minhas responsabilidades”, conta.
Neste contexto João Silva salienta que o problema fica maior quando as pessoas entram em negação. “As pessoas têm a noção que algo não está bem, mas entram em negação. Isso aconteceu comigo e acontece com muita gente”. Esse período de negação, no entender de João Silva “é muito perigoso” uma vez que se pode “chegar a um ponto sem retorno em que não se sobrevive”, alerta.
“A adição é um problema crónico e mortal e mata muita gente”, afirmou.
No caso de João, a vontade de parar foi mais forte. “Senti vontade de parar. Toda gente sente essa vontade, mas não consegue por isso é que é uma doença. Tu sentes que tens de parar, mas a doença começa quando ela te controla e não consegues contrariar”, explica.
Para João, enfrentar o problema e dizer à família não foi fácil, mas felizmente tudo correu pelo melhor. “Os meus pais e familiares quando souberam do meu problema não reagiram muito bem claro, ninguém tem uma notícia destas nem lida com um problema deste de ânimo leve por mais inconsciente que seja. Mas a minha sorte é que eles sempre me apoiaram, se não também não teria o desfecho que teve”, salientou.
João Silva teve internado três meses numa clínica em Vila Real, onde foi sempre acompanhado por diversas pessoas e desde que lá entrou até hoje, já lá vão 2 anos, nunca mais consumiu. No entanto, tem consciência que tem “uma doença que se chama adição e que é uma doença crónica. Isso significa que tenho de ter cuidado para o resto da minha vida para não ter uma recaída e não posso nem socialmente tocar no álcool”, sustentou.
De acordo com João o principal problema do consumo do álcool é a vida social e a sociedade. A este respeito o velejador esclarece que “o problema maior das pessoas é a nível social, toda a gente começa pelo socialmente e o pior é quando se torna muito habitual e aí é que se pode passar do social para doença”, entende.
João Silva considera que o consumo do álcool está associado aos hábitos sociais e culturais dos portugueses. “Portugal tem uma grande tradição de vinhos de licores, temos uma grande tradição do brinde, o convidar um amigo para beber um copo chega a ser em certas zonas uma ofensa recusar”, argumentou.
É neste sentido que o velejador deixa um alerta. “Um grande perigo e estou sempre a batalhar nisso, e não sou contra a quem vai brindar ou contra a quem convida, o problema é quando são muitos brindes e muitos convites e não podemos recusar porque a pessoa vai ficar ofendida e conforme os estilos de vida das pessoas às vezes isso torna-se um problema e as pessoas caem no erro”, justificou.
O álcool traz grandes problemas a quem o consome, quer ao nível financeiro quer ao nível emocional e de saúde. Sobre este assunto João Silva confessa, que a sua vida quando bebia era muito mais complicada. “Depois de deixar o vício mudou completamente, comecei a viver com alegria, sem metade das preocupações, porque preocupações temos sempre, faz parte da vida de qualquer pessoa, mas começas a conseguir concretizar os teus sonhos, porque antes não havia tempo para isso, ou seja, muda por completo”.

 

Projeto “A Volta aos Açores Contra as Dependências”

O projeto “A Volta aos Açores Contra as Dependências” surgiu assim que João Silva adquiriu o “Twisted” em 2017. O velejador tomou contacto com a vela muito cedo no Clube Naval da Horta. Ter um veleiro fazia parte dos seus sonhos.
Aliar um sonho a uma causa foi para João um motivo de orgulho. Com este projeto o velejador faialense vai percorrer cerca de 1200 milhas náuticas, mais do que ir da Horta a Lisboa.
Das viagens que já fez no âmbito deste projeto, pode dizer que o balanço é muito positivo. “Primeiro porque eu escolhi um modo de divulgação do projeto através das redes sociais, que me permite chegar a muita gente e torna mais fácil a divulgação e porque hoje em dia, os jovens e a pessoas em geral estão online e além de conseguirmos chegar à população local, conseguimos também chegar mais além, eu recebo mensagens do Brasil, e vejo que o projeto está a chegar além fronteiras e que as pessoas me estão a acompanhar”.
“Estou muito contente, porque nunca pensei que a iniciativa tomasse a dimensão que está a ter”, revelou com satisfação.
O seu objetivo é terminar o projeto no final de agosto, mas tudo vai depender da sua atividade profissional.
O velejador avança que um dos seus objetivos é nos portos por onde passa é ter o “Twisted” aberto para quem quiser visitar e tiver curiosidade em falar sobre o projeto e sobre esta problemática.
Pelos portos onde já passou, João Silva, falou com os jovens e a mensagem que tem deixado é “que eles não precisam de substâncias para se afirmarem seja lá para quem for”. Para o velejador o consumo nos jovens está muito associado à questão de afirmação, de integração num grupo.
Neste projeto João Silva contou com alguns apoios, mas o mais importante para si foi o da sua família, “sem eles era impossível fazer isto”, realça, depois teve também o apoio do Governo Regional, através da Direção Regional da Juventude, e de algumas empresas, como a Bricovelas, a empresa NO Fraião, a Naturalist, a clínica onde esteve que “adorou a ideia, a Clínica RAN, a Surf Mil Fontes, que é do continente de Vila Nova de Mil Fontes, que tem uma escola de surf que também faz algum trabalho com miúdos, tive bastantes apoios pois caso contrário era impossível”, revelou.
Enquanto ex adito o conselho que deixa “é que tentem identificar o que são comportamentos de risco. É claro que é difícil para um jovem perceber o que é um comportamento de risco se não está por dentro do assunto daí a importância de haver um trabalho de sensibilização de informação para eles conseguirem identificar”, por outro lado “as pessoas que já estão com o problema devem fazer uma grande análise, verdadeira de si próprios e não deixar chegar ao extremo e pedir ajuda. Não é vergonha pedir ajuda, só tem a ganhar com isso”, rematou.
A finalizar João Silva, adiantou que este projeto lhe abriu portas a outras ideias que pretende por em prática, mas que ainda não pode divulgar. 

 

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