Curiosidade que mata e destrói…

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Eu tenho ao longo dos anos, aprendido ou tentado aprender, aproveitando as oportunidades que me foram dadas. Procurei juntar o útil ao agradável.

Fiz coisas que gostei, trabalhei com gente interessante, conheci lugares e fiz trabalhos que ainda hoje perduram e outros foram, usados como marca e funcionaram na perfeição. Fiz cursos em áreas de que gosto. Vivi com pessoas que muito me ensinaram e me fizeram crescer, como artista e como homem. Mas também enveredei pela vida do crime. 

Já em idade adulta pratiquei atos ilícitos, que me fizeram passar uma grande parte da minha vida preso. Menti, consumi drogas, burlei, roubei, falsifiquei documentos e moeda trafiquei drogas, e mais, muito mais. Em tão pouco tempo consegui destruir aquilo que tinha ganho como ser humano. 

Tinha uma relação com uma mulher fantástica, que me amava, acima de tudo era uma grande amiga. Quando descobriu que eu andava a consumir, foi ela quem fez de tudo para que abandonasse os malditos consumos, mas eu não queria parar. Ela pensou que se nos mudássemos para o Faial, eu iria parar. Pensou que se fugíssemos ao problema, as coisas ficariam resolvidas. Enganou-se… eu não tinha vontade de parar e quis fazer as coisas pela maneira que achava ser mais correta. Deixei-a e meti-me com outra mulher que não me questionava, não me controlava e acima de tudo, começou a consumir. Ai, foi o estrondo final. Mas mesmo assim, não aprendi que as drogas não me levavam a nada de bom. 

Em 1997 fui condenado a nove anos e dez meses, por vários crimes de falsificações, burla e frutos qualificados entre outros, por uma única razão-consumir heroína. Nunca tive vontade própria para assumir que tinha um problema grave por resolver. 

Tudo volta ao início, quando depois de cumprir três anos e dez meses de cadeia, saí da prisão e já estava novamente dependente da maldita heroína. Fiquei no Faial até final de 2001 e foi então que, resolvi ir para São Miguel, para uma clínica, fazer uma desintoxicação. Mas a minha estadia, na clínica, foi curta. Julgo que nem estive lá um mês. 

Depois arranjei trabalho como pintor na Construção Civil. Tinha parado com os meus consumos e estava a gostar de me ver. Sentia-me bem. Trabalhava de segunda a sexta das 8 às 21 horas. Ao sábado, trabalhávamos até às 17 horas e recebia à semana. Tinha dinheiro para pagar a alimentação, o apartamento e ainda saía ao fim de semana, para me divertir. Mantive este ritmo de trabalho quase dois anos, até que um dia encontrei uma pessoa conhecida, com a qual já tinha consumido. Foi aí, que ela me propôs um negócio, que à partida iria dar muito mais dinheiro do que aquele que eu recebia mensalmente, trabalhando honestamente. Entregou-me, dois dias depois de nos termos encontrado, 400g de heroína. Vi ali uma boa oportunidade de ganhar dinheiro, muito dinheiro. Como não estava a consumir, pensei que era capaz de cumprir o nosso acordo e vender 400g, de 20 em 20 dias. Nos primeiros três meses as coisas estavam a correr como tínhamos planeado, mas houve um dia, bastou um único dia, e recomecei a consumir. Como tinha muita droga, consegui nos meses seguintes, pagar a heroína que me era dada para vender, para destruir a vida de outras pessoas, tal como já uma vez tinha destruído a minha. Mas naquela altura não pensava assim. Não me importava saber onde conseguiam o dinheiro, se era roubado ou não, a mim não me dizia respeito. Apenas queria vender, para que não me faltasse dinheiro, para os meus consumos. 

Entretanto conheci uma mulher que me cativou e conseguiu seduzir-me. Mal sabia eu que não iria levar aquele modo de vida por muito tempo- notas falsas de 50 euros. Tinha uma caixa com muitas notas para gastar e heroína para consumir. Os disparates foram seguidos de perto pelas autoridades, que um dia acabaram por me prender. Mais uma vez estava preso e fui condenado a 6 anos e 8 meses, que cumpri até ao último dia. Tudo por causa da heroína e por pensar que conseguia ter controlo sobre esta maldita droga. Mas era só na minha cabeça, que isto acontecia. Era ela que me controlava e destruía lentamente. Foi ela uma vez que mais que me atirou para trás das grades da prisão. 

Como já devem ter percebido, não tenho formação académica, mas todas as experiências que vivi, estão aqui resumidas e ficaria feliz, se soubesse que pelo menos um jovem ao ler isto, parasse, pensasse se vale a pena consumir drogas, perder amigos, perder a confiança daqueles que gostam de nós e que se nos dizem para não fazermos isto ou aquilo, que  é para nosso bem.

Os nossos pais não merecem ver um filho a matar-se lentamente com as suas próprias mãos. Se sentes curiosidade em experimentar alguma droga, tira esta ideia da tua cabeça. Nada é mais valioso, que a tua liberdade.

Para seres feliz não precisas de aditivos- DIZ NÃO À DROGA.

Eu não sou exemplo para ninguém, mas se não seguires o meu exemplo, podes ser uma pessoa feliz. 

De um recluso        

Programa Reativar Cadeia da Horta

 

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