Do fado

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DR/TI
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O amor, a melancolia, os infortúnios e as esperanças criaram, em Portugal, uma expressão musical única no mundo: o fado. E não há que ter pejo em assumi-lo como a nossa canção portuguesa de marca. É que, quer queiram quer não, o fado está para Portugal, como o tango está para a Argentina e o samba para o Brasil.
Etimologicamente o fado é o nosso “fatum”, isto é, o nosso destino, a nossa tristeza em tom menor e a nossa forma de estar no mundo. Somos meridionais e latinos, trazemos connosco os acentos doridos da paixão, do ciúme e do pesar saudoso. E isto sempre fez parte de uma certa mitologia fadista.
Diversas, discutidas e discutíveis são as origens do fado: árabe, brasileira, africana, provençal ou popular. A única certeza que temos é que ele fala português e está hoje classificado pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade.

Também se sabe que o fado nasceu da boémia da velha Lisboa no segundo quartel do século XIX, andou pelas vielas de Alfama, pelos becos escuros e escusos da Mouraria, pelas tabernas e prostíbulos da Madragoa… Com jeito de gingão armou-se ao fino, teve uma fase aristocrática, foi canalha e tornou-se marialva e fatalista no tempo da Severa, do conde Vimioso e de outras gentes de hábitos duvidosos…
A partir do século XX o fado começou a ser cantado em palcos e conheceu outra dignidade. Nos anos 30 o gramofone veio industrializar a “canção nacional”. E depois surgiu Amália Rodrigues e nada viria a ser como dantes.
Hoje uma nova geração de fadistas está a trazer para o fado novas roupagens musicais, novos universos poéticos, novas soluções formais e outras sofisticações harmónicas. Mas foi Amália quem primeiro o fez e quem, pela primeira vez, projectou o fado para espaços universais ao cantar poetas maiores: Luís de Camões, Fernando Pessoa, Alexandre O´Neill, David Mourão Ferreira, Homem de Melo, Lima Couro, Ary dos Santos, entre outros, fazendo-se valer de competentíssimos compositores como Frederico Valério, Raul Ferrão, Alberto Janes e Alain Oulman. Com ela, o fado corrido, o fado menor e o fado mouraria deram lugar ao fado poema e ao fado canção.
Os fadistas, os de ontem e os de hoje, vão continuar a expressar sentimentos, emoções e estados de alma. Porque essa é a sua forma de perseguir caminhos de felicidade e sonho.

Longa vida ao fado!

P. S. Também no Faial temos fadistas, guitarristas, violas de fado e baixos que muito têm contribuído para uma verdadeira cultura de fado entre nós. De salientar que, a nível nacional, só há duas mulheres guitarristas de fado: uma é continental e profissional: Marta Pereira da Costa; a outra é Rute Ortins Duarte, amadora e faialense.

 

 

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