Florentinos que se destinguiram – MANUEL VITAL DA CÂMARA (1907-1978) Militar e Comandante da Guarda-Fiscal

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Nasceu no curato da Fazenda, freguesia e concelho de Lajes das Flores a 2 de outubro de 1907, filho de Vital António da Câmara e de Maria de Jesus da Purificação, ele sapateiro e ela doméstica. 

Era um dos filhos mais velhos dos 21 que o casal tivera. O pai, conhecido na ilha por “Mestre Vital”, viera da ilha de Santa Maria (talvez acompanhando outros conterrâneos seus que vieram trabalhar na construção da igreja) e estabelecera-se definitivamente na Fazenda, onde casou e exerceu a atividade de sapateiro.

Como era de débil constituição física, depois de fazer a 4.ª classe da Instrução Primária, na sua terra Natal, em 1918, quando ali leccionava o prof. João Naponeceno Vila Lobos, onde já revelara inteligência e boa capacidade intelectual, rumou à Terceira, ingressando no Seminário de Angra do Heroísmo. Era o destino que antigamente seguiam muitos jovens com poucas capacidades económicas para continuarem os seus estudos e, sobretudo, quando se mostravam frágeis para enfrentarem a dureza dos trabalhos rurais das lavouras. Frequentando esse ensino durante vários anos, ao mesmo tempo que crescia para a vida, Manuel Vital viria a notar que não se sentia vocacionado para fazer uma carreira eclesiástica, pelo que acabaria por abandonar os estudos e regressar à terra natal. 

  Em 9 de janeiro de 1926 foi incorporado como soldado no Exército da ilha Terceira, tendo apenas 19 anos de idade, optando então por seguir essa vida, beneficiando dos estudos que já levava consigo. Depois de fazer a Escola de Recrutas, frequenta a Escola de Cabos (possivelmente de milicianos, face à instrução que tinha) e, rapidamente, passando pelo cargo de 1.º Cabo, ascende em dois anos à categoria de 2.º Sargento. Embora servindo o Exército português em tempo de paz, onde as promoções se faziam muito lentamente, em 1936 é promovido a 1.º Sargento. Sempre estudando e frequentando os cursos adequados da especialidade, em 1949 ascende à carreira de oficiais, com a categoria de Alferes. Em 1952 era promovido a Tenente. 

Entretanto, em 1928 casara na ilha Terceira com Helena Carvalho Braga, filha do então comandante do Forte de São Brás, de Angra do Heroísmo, o Tenente António Carvalho Braga, natural de Santa Maria e aí homenageado na sua toponímia e no museu local, por ser um idealista político e “um democrata à Cristo”, como ele próprio gostava de se intitular. Desse casamento, que durou cerca de 60 anos, nasceram as filhas Maria Helena Braga da Câmara e Maria Manuela Braga da Câmara, residentes, respectivamente, nas cidades do Funchal e do Porto. 

Manuel Vital da Câmara, durante a década de 1960 assumiu o cargo de Comandante da Guarda-Fiscal de Ponta Delgada, cargo que desempenhou com dedicação e competência, cerca de meia dúzia de anos. 

Aí, na ilha de S. Miguel, pôde ser útil a muitos dos seus conterrâneos quando estes precisavam de ajudas e de influências para emigrarem, quer para os EUA, quer para o Canadá. E isto porque foi precisamente nessa década que se registou o grande fluxo de saídas de açorianos das nossas ilhas para o “Novo Continente”, onde muitos, nomeadamente florentinos e particularmente fazendenses encontraram as condições de vida que a sua linda ilha das Flores lhe negara. 

Fixando residência na ilha da Ma-deira, onde passou os últimos anos da sua vida, o nosso conterrâneo Manuel Vital da Câmara, que não tivemos o prazer de conhecer, veio à ilha das Flores por volta de 1976. Ainda sem ver todo o progresso verificado depois nas nossas ilhas, sobretudo depois da Autonomia de 1976, voltou, em visita, à sua amada ilha das Flores, abraçando os seus muitos familiares e amigos, chorando as lágrimas de um reencontro e de uma dolorosa e saudosa despedida. 

Veio a falecer, dois anos depois, na ilha da Madeira, a 28 de novembro de 1978.

Nos últimos anos de vida colaborava no Jornal da Madeira, com artigos de opinião, procurando transmitir e partilhar o que a experiência e a cultura da vida lhe ensinara. 

Era um humanista, dotado de uma inteligência límpida e culta, cujo coração granjeou amigos nas várias localidades por onde passou.

BIBL: Elementos curriculares remetidos pela filha Maria Manuela Braga Câmara, arquivados nos meus documentos em 19-2-2007, e “Jornal-Rádio”, de Santa Cruz das Flores, de 18-8-1918; Trigueiro, José Arlindo Armas, “Fazenda das Flores, Um Século de Sucesso”, (2008), pp. 219, ed. da Câmara Municipal das Lajes das Flores. 

 

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