Meu Caro Amigo Alberto Romão

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Há cerca de três meses senti um enorme prazer em rever-te, momentos antes do início de uma conferência em que ambos iríamos participar no Teatro Fayalense.

Porque ambos sempre prezámos o cumprimento do dever da pontualidade, chegámos com suficiente antecedência para podermos “pôr a escrita em dia”, uma expressão que te era muito cara e que, nesse agradável reencontro, tinha maior razão de ser uma vez que, involuntariamente, os nossos percursos de vida já não se cruzavam há vários anos.

Sabia-te doente, mas a expressão serena que li na tua face, radiante de alegria, deu-me a resposta imediata à pergunta que não precisei de fazer: sentias-te bem, fortalecido pelo optimismo e pela esperança com que sempre encaraste os desafios da Vida.

Felizmente, dispusémos de tempo suficiente para recordar, com saudade, as nossas experiências partilhadas na arena política. Da rica história da I Legislatura, fizeste questão de relembrar vários momentos em que, perante situações mais acaloradas do debate democrático, entrámos em liça no salão nobre do “Amor da Pátria”.

Um deles aconteceu numa altura em que as relações formais entre os nossos dois Grupos Parlamentares se encontravam bastante atribuladas, com marcas evidentes de perda de confiança pessoal entre alguns dos membros das respectivas direcções. Por louvável iniciativa do Presidente do teu Grupo Parlamentar, disponibilizaste-te para reconstruir a ponte de diálogo que ruira. Ficará gravada para sempre na minha memória, a frase que me repetiste: “Vou falar com o José António. O problema vai resolver-se”. E, ao cabo de algumas horas de negociação, resolveu-se mesmo.

Tal era possível, porque sempre soubeste respeitar e valorizar o “outro”, mesmo quando partias de uma posição de vantagem. Embora te mantivesses intransigente quanto às questões de princípio a que foste infalivelmente fiel, a tua bonomia e humanidade constituiam a chave que abria as portas ao diálogo, sustentado sabiamente num talento comunicacional eficaz, num discurso sério e numa abertura de espírito estimuladora da procura de factores de união, na perspectiva do interesse colectivo, que, independentemente do grau da divergência política, nunca deixaram de existir.

Relembrei-te e agradeci os muitos gestos de amizade e compreensão que me manifestaste quando atravessei a fase mais tormentosa da minha vida política.

A nossa amena conversa foi subitamente interrompida porque começaram a chegar os convidados e os participantes na conferência em que seríamos palestrantes.

Do pódio, dirigiste-me palavras amigas de apreço ditadas pelo teu coração generoso. A tua oração constituiu o momento alto da conferência, uma lição que apenas um Autonomista convicto e servidor público com sobejas provas dadas podia proferir, plena de coerência e de sabedoria, em que não faltaram os sinais de alerta face ao acumular de escolhos que começam a fazer perigar o futuro do regime autonómico que ajudámos a fundar. Quem esteve presente – e, merecidamente, te aplaudiu de pé – jamais olvidará o teu testemunho e aconselhamentos.

De seguida, foi-me dada a palavra. Aproveito esta ocasião para transcrever a singela saudação que então te enderecei:

“Permitir-me-ão que exprima um especial prazer por partilhar este lugar na mesa de debate com um autonomista da envergadura política, cívica e moral de Alberto Madruga da Costa, um adversário sempre leal de muitos combates há longos anos travados no palco democrático da “Casa da Autonomia” em prol da dignificação do regime democrático, da autonomia constitucional e do desenvolvimento regional.”

Ainda almoçámos juntos, a convite dos nossos anfitriões. E despedimo-nos.

Um dia destes voltaremos a encontrarmo-nos.

 

Até breve, caro Amigo. 

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