Não votei porque…

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Não encontrei em qualquer candidato uma empatia verdadeira. Todos eles nos foram entupindo com promessas, programas vastos e grandes realizações. Como habitualmente, aliás. Sempre e sempre encontrei em quase todos uma falta de capacidade para apresentar propostas de maneira objectiva, clara, sintética, sobretudo verdadeira.

Penso que faltou sempre algo muito importante – a credibilidade. E essa credibilidade necessita estar na voz, na fala que vincula as intenções de cada qual. Sinceramente, ao ouvi-los, sempre me passou a impressão de não estarem a usar a própria voz. Aquela voz que chegava até nós, parecia trazer algo de errado, estando mesmo em desacordo com quem a emitia.

Penso que uma campanha eleitoral deve  ter como objetivo o bem comum, mas nem sempre isso sucede. Comum mesmo, a maior parte das vezes é a busca dos interesses de cada qual, dos seus familiares, amigos e correlativos. Às custas do estado. E assim sendo é sempre uma luta desigual. Para quê votar? Não faz sentido! 

Sinceramente, eu tentei mas não consegui de forma alguma, ser levada até à verdadeira personalidade dos candidatos. Eles falavam, falavam, mas eu só conseguia ouvir palavras repetidas, não ideias, pensamentos, argumentos válidos.

Todos ou quase todos, aproveitaram o exíguo tempo de antena para pôr em prática a arte de mal dizer.  Naquela campanha parecia haver mais que tudo um problema de avaliação do carácter e das ideias e procedimentos dos adversários políticos. É hábito. Só que nós já sabemos, por experiência que “ atrás de mim virá quem pior o fará”

E, chegando a hora de votar, de escolher o candidato certo, acreditando mesmo na sinceridade dum ou d´outro, não consegui fazê-lo. Era necessário algo mais. Algo mais somado a muita competência, sinceridade, credibilidade, para oferecer uma contribuição positiva a um país a braços com um turbilhão de problemas de ordens várias. A um país inserido num mundo em que tudo se reflete em  todos.

E não votei. Neste momento ao dar estas toscas explicações, sinto um sentimento de culpa. Culpa essa que me faz pensar muito. Horas há que sinto ter procedido bem. Outras há, porém, em que sinto arrependimento pela minha falta de dever cumprido. Claro está que o não fiz  por simples indiferença.

E não votei porque não consegui deixar levar-me por argumentos ocos, músicas, comezainas , incapazes de saber gritar a verdade, criar um clima de solidariedade, sem atacar o adversário. Solidariedade essa que desse azo a que o mundo amanhã pudesse existir. Simples e decentemente para todos.

Não votei porque tem sido muitos anos de tarimba. Meus Deus, já quantos sorrisos enfrentei de candidatos, que na época de propaganda foram campeões de simpatia e promessas. Abraçaram e beijaram o zé povinho, foram lambuzados por criancinhas e prometeram, prometeram e prometeram. E o resultado está aí… a céu aberto!

De início, há muitos anos, acreditei, votei, esperei o cumprimento das promessas que, eu, imbecil, acreditei então. E fui esperando, hoje, amanhã e depois, fiozinho de esperança sem morrer. Até que com o andar do tempo, entendi. Aprendi a lição. À minha custa. Nada cumprido, nada feito, tudo errado. Até a porcaria do sorriso se volatilizou. De amigos do peito, passaram a ilustres desconhecidos, lá no alto do poleiro, onde nós lhes demos a mãozinha para subir. Agora, mais, não, obrigada!

Até penso que, com a pouca sorte que tenho em jogos e joguinhos, nunca devia ter enfiado a mão numa urna. Sinceramente. Só acertei uma vez. E diga-se de passagem que me saíu a sorte grande. Foi naquela bendita eleição em que votei num grande homem, que continuo admirando e respeitando – o General Ramalho Eanes.

E por uns pagam os outros. E muito talvez por falta de capacidade e saber para tapar os buracões deixados de herança e que eles, um dia de rastos, deixarão a outro e assim sucessivamente.

Fica uma pergunta no ar. Por que será que há uma luta insana pelo poder, se afinal ele dura pouco, não rende nada e sempre saem mal na fotografia? E, pior, carregados de adjetivos que até envergonham o dicionário. Será tão grande o amor à pátria? A título zero, claro! Só boas intenções e mais nada. Deus sabe. A recompensa virá do Alto! Espero. Desejo. Tanto quanto esperam e desejam os milhares de famintos que aguardam um prato de sopa para mitigar a fome. Ou outros tantos sem abrigo, procurando  um canto de chão e um pedaço de papelão para dormir.

Será que isto é viver? Será que existe gente gostando de gente? Será que essa gente fugiu  ao sistema ou será que o sistema é que os abandonou? 

 

 

 

 

 

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