O exemplo que não se deveria dar no 25 de Abril

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Em pleno Estado de Emergência, com regras e imposições muito claras para todos os cidadãos portugueses, o Presidente da Assembleia da República decidiu manter as comemorações do 25 de Abril.
Nada a objetar a essa comemoração, pois, apesar de vivermos um período difícil, a democracia não está suspensa. Efetivamente, o Parlamento ao longo destas últimas semanas nunca encerrou as suas portas, nunca fechou, tem funcionado sempre com 1/5 dos deputados (46) nos debates parlamentares e de quinze em quinze dias nos debates que contaram com a presença do Primeiro-Ministro.
Ora, com estas limitações, já existentes, decorrentes do momento vivido, fazia sentido manter a cerimónia solene no Parlamento nacional.
No entanto, a polémica, desnecessária mas inevitavelmente criada, surge precisamente porque Ferro Rodrigues entendeu que a sessão solene do 25 de Abril deverá ter não 1/5 dos deputados como tem sido a regra, mas sim 1/3, ou seja, 77 deputados. E, para além desses, conta com diversos convidados externos, juntando-se no hemiciclo 130 pessoas.
Que exemplo dá para a sociedade quem decreta para o país o Estado de Emergência, que, entre outros aspetos, proíbe expressamente ajuntamentos e coloca a maioria da população em confinamento doméstico e depois incumpre as mesmas regras que cria?
Obviamente um mau exemplo em matéria de conduta social. A comemoração do 25 de Abril é extremamente importante, pois é uma data marcante da nossa democracia, da nossa história e deve ser celebrada.
Mas a melhor forma de o celebrar é, em primeira instância, cumprir as orientações que as instituições que nasceram nessa data têm emitido. E, aparentemente, são essas próprias instituições a quebrar as regras e a promover a irresponsabilidade, numa clara atitude de “façam o que digo e não o que faço”.
O 25 de Abril não tem que ser exibido, tem que ser respeitado. E a melhor forma de o respeitar seria com recato, o tão apregoado distanciamento social e responsabilidade. Aquilo que se pede à comunidade deve ser válido para todos. É isso o 25 de Abril.
Num momento em que os cidadãos vêem a sua vida coarctada numa série de práticas rotineiras básicas, como faltar a funerais de familiares e amigos, não poder ir à missa ou comemorar a Páscoa com os seus entes mais queridos, ou ainda ter que adiar o casamento e outras festividades marcantes na vida de cada um, sem falar dos idosos que estão sozinhos há semanas, do milhão de pessoas em lay-off, abrir uma exceção como fez o Presidente da Assembleia da República para a celebração da data que nos devolveu a democracia é transmitir à população uma posição, no mínimo, de prepotência e uma demonstração de clara incoerência.
E, por isso, as pessoas têm razões para estar descontentes. Atendendo ao momento presente, podiam ter-se encontrar alternativas para fazer essa celebração, com a mesma dignidade mas que não implicassem uma tão elevada concentração de cidadãos.
Seria um exemplo de enorme atitude cívica. No entanto, ao invés, com a posição adotada preferiu privilegiar-se a questão ideológica em detrimento da pedagógica.
As situações excecionais exigem medidas excecionais para TODOS e não somente para ALGUNS. A nossa democracia deveria estar suficientemente madura para perceber isso. O que não aconteceu neste caso.

#FicaEmCasaFaial

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