Encastrado por entre os ancestrais currais de vinhas e as castas tradicionais que neles crescem, ergue-se, sobranceiro, no sopé da montanha da ilha do Pico, um majestoso edifício, de pedra basáltica e ergonomia dinâmica, como que projetado a régua e esquadro, digno de um qualquer prémio de arquitetura contemporânea.
É a sede da “Azores Wine Company”.
Perfeição talvez seja a palavra do dicionário que melhor se coaduna para caraterizar esta construção. Todos os pormenores foram tidos em conta, mesmo o mais ínfimo, e a sua implantação em campos de lava obedeceu a um rigoroso e cuidado processo de licenciamento.
À medida que viajamos na estrada que nos guia até ao edifício da “Azores Wine Company”, sempre ladeada por currais, percorre-nos a firme sensação de estarmos a entrar numa espécie de “Zona Lunar”, tal é a excecional beleza natural da paisagem com que nos deparamos.
Poderia pensar-se que estaríamos numa qualquer zona idílica do mundo, que não Portugal, que não os Açores. Não. Estamos numa imponente ilha açoriana, que muitos apelidam de “ilha do futuro”, que enche os olhos, dia após dia, quando é observada do outro lado do Canal.
A ilha do Pico, munida da classificação de Paisagem da Cultura da Vinha como Património Mundial dada pela UNESCO, transformou-se e com essa transformação provocou uma verdadeira revolução no panorama regional, atrevo-me mesmo a dizer nacional, da área vitivinícola.
Não espantou, por isso, o aparecimento, nesta área, de importantes projetos, com investimentos privados avultados, da captação de enólogos de reconhecido mérito, da recuperação e seleção de castas, de um maior cuidado na apanha das uvas e da consequente criação de vinhos de excelência que têm deliciado os mais incrédulos.
É neste capitulo que não posso deixar de enaltecer a extraordinária “Azores Wine Company” pela sua excentricidade, idealizada e edificada por um grupo de pessoas jovens e empreendedoras como António Maçanita, Filipe Rocha e Paulo Machado, que não hesitaram em investir, literalmente, no meio do oceano, em colocar o seu “know how”, a sua experiência acumulada no difícil mundo dos vinhos ao serviço da ilha Montanha, dos Açores e no fundo de Portugal.
Dotaram-se dos melhores técnicos, dos mais modernos equipamentos destinados à produção do vinho, o que lhes permitiu um total controlo de todas as fases do processo de criação de cada “néctar vulcânico”, mostrando, assim, a determinação e a paixão que estes empresários colocam no âmago de cada garrafa de vinho produzida, em cada pedaço do “Pico” que sai das entranhas da adega.
Com uma vista única sobre uma imensidão de currais de vinhas, sobre o majestoso Pico, sobre a Ilha do Faial, a Ilha de São Jorge e sobre o mar azul a esvair-se nas rochas vulcânicas, a “Azores Wine Company” é mais que uma adega onde se produz vinho de excelência, é uma experiência sensorial.
Planos futuros incluem também experiências gastronómicas diferenciadas, tentando tirar partido do turismo “off season” que é ainda é muito baixo nas Ilhas do Triângulo. Enfim, é o ponto de partida e de chegada de uma experiência única, onde alguns dos melhores vinhos dos Açores são criados.
A partir das principais castas brancas existentes na ilha do Pico como o Arinto do Açores, o Verdelho e o Terrantez do Pico, provámos, com o auxílio do “impecável” anfitrião Filipe Rocha, que, com um entusiasmo contagiante, nos guiou numa viagem com um interessantíssimo enquadramento Histórico por uma prova de alguns dos seus vinhos, como o Branco Vulcânico, o Arinto dos Açores, Verdelho o original, Terrantez do Pico e o Arinto dos Açores Sur Lies.
Extraordinários vinhos sem dúvida. Mas, como leigo nesta matéria, aquilo que mais me marcou, além dos “bouquets” que tornam cada um bastante diferente do outro, foi a refrescante salinidade que todos possuem, que advém da proximidade que as vinhas têm do mar. Essa salinidade é talvez a característica principal que torna estes “néctares Vulcânicos” únicos.
Os tintos também não faltaram. Com “O Sabor(z)inho”, uma das castas tintas tradicionais que quase desapareceu das vinhas e de edição de apenas 710 garrafas, o profissionalismo desta gente é posto à prova.
E “A Proibida”, o meu vinho favorito nesta experiência sensorial, é a expressão máximo do tributo aos tradicionais vinhos da cultura popular transportado para o futuro.
Não posso deixar de mencionar, por relevante, que na ilha do Faial também já se começa a olhar e a seguir os bons exemplos nesta área, como é o caso da Adega do Vulcão, com o “Ameixâmbar”.
Sem dúvida que o que se produz na “Azores Wine Company” – vinho de excelência – é demonstrativo não só da resiliência açoriana, com todas as suas idiossincrasias, mas sobretudo da capacidade de realizar feitos gigantescos que hoje permite atingir patamares outrora impensáveis.
Arrisco-me a escrever que toda esta imagem que brilha perante os nossos olhos deverá ser obrigatoriamente lugar de visitação e cartaz turístico, já de si abundante nesta fabulosa ilha do Pico, um chamariz, não só, mas também para este nicho de mercado especifico, onde o turista está disposto a pagar para usufruir deste tipo de experiência.
Enfim, digo eu, tantas identidades dentro de uma personalidade única. A da “Azores Wine Company”.
Muito obrigado Filipe Rocha, espero voltar brevemente!