Profissões: José Martins Azevedo é vigia da Baleia

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“A pior coisa que pode acontecer a um vigia é mandar sair um barco e este vir para dentro sem ver baleias”

Em tempos a caça à baleia foi uma atividade muito importante na economia e cultura da ilha do Faial. Deixou marcas que perduram até aos dias de hoje.

Essas marcas estão bem presentes, sobretudo através do Whale Watching. Atividade que surgiu poucos anos depois de ter entrado em vigor, no ano de 1986, uma regulamentação que proibia a captura de todas as espécies de mamíferos marinhos em águas portuguesas. Isto para percebermos a atividade profissional de José Martins Azevedo da Silva. Nascido no Faial a 15 de fevereiro de 1982, há 13 anos que é vigia da baleia.

Casado e pai de duas meninas, Martins, como é mais conhecido no meio, caiu nesta atividade de “paraquedas” mas a sua teimosia levou-o a identificar-se com a profissão ao ponto de a tatuar no braço.

No início esteve prestes a desistir, mas hoje em dia, distingue as várias espécies de baleias apenas pelo bufo, conhece bem o seu comportamento, fruto da sua curiosidade, gosto pela profissão e as horas passada na vigia. Vigia de baleia a tempo inteiro, principalmente no lado norte da ilha, admite que esta é uma profissão muito solitária, difícil, que requer muita disponibilidade, muitas horas de trabalho e acima de tudo dedicação.

Para o vigia, dias difíceis, de visibilidade mais reduzida, são aqueles que lhe dão mais adrenalina. A responsabilidade de mandar barcos sair com pessoas e garantir que veem baleias é a sua maior motivação.

Tribuna das Ilhas – Que motivos levaram à escolha desta profissão?
JM- O emprego. Uma coisa nova. Em 2009 não havia assim muito trabalho disponível. Foi uma altura que tudo estava um pouco estagnado. Estava a percorrer um jornal e vi um anúncio “procura-se vigia da baleia”. Pensei: porque não e concorri. A publicação era do Peter. Como conhecia bem a costa do lado norte, que era o lado que precisavam, fui o escolhido. Desde então até hoje que exerço esta atividade.

TI- Como teve contacto com a profissão?
JM- Caí de paraquedas. Tive de estudar o comportamento de baleias. Há histórias do início, que comecei a aprender com o senhor Manuel Vargas, que era o vigia do lado norte e que infelizmente já não se encontra entre nós. Ao fim de uma semana com ele, ele mandava os barcos para as baleias e eu não via nada, nada, nada. Estive quase a desistir.
Houve um dia que estava um tempo muito esquisito. O senhor Vargas disse-me: “Oh Martins temos as empresas para sair, temos que ver onde estão as baleias”. Eu respondi: “Oh senhor Vargas! Não vejo quando o senhor Vargas está a vê-las, como é que quer que eu as veja agora?”. Ele lá me explicou bem o que é que eu tinha de ver, e eu vi. Virei os meus binóculos para o local e disse-lhe para pôr o olho. Ele viu e disse: “isso, isso é que é uma baleia”. Daí para cá, comecei a trabalhar sozinho. Durante muitos anos trabalhei sozinho. Agora no Faial é que temos mais um vigia.

TI- Que formações tem nesta área?
JM- Nenhuma, apenas a formação da vida. Fui estudando nos livros, mas não há formação específica. Os vigias de baleia podem estudar os animais, alguns comportamentos, mas para ser vigia primeiro tem de se gostar de estar sozinho, é uma profissão muito solitária, tiramos muito tempo principalmente no verão. Podemos estar desde as sete da manhã até às oito da noite, sempre na vigia. O resto é aprender com a vida. Nós é que temos de aprender e adquirir os nossos métodos. Eu por exemplo não conseguia usar as técnicas do senhor Vargas. Ele tinha os seus métodos eu tive que ir procurando, puxando pelos meus e aprendendo. É também fundamental ter muito bom olho para ver os animais e mandar sair as empresas.

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