Singularidade da vegetação açoriana

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A Região Macaronésica tem cerca de 4 500 espécies de plantas vasculares das quais uma quinta parte são endémicas de um ou outro arquipélago e cerca de 220 são espécies compartilhadas entre os diversos arquipélagos. O número de plantas vasculares endémicas e nativas presentes nos Açores – menos de 300 – é relativamente reduzido se compararmos os Açores com a Madeira ou as Canárias, e de entre estas apenas 73 são espécies endémicas. Assim, menos de um terço das plantas vasculares açorianas são consideradas indígenas e cerca de 70% são exóticas. Há investigadores que afirmam mesmo que “a percentagem de taxa introduzidos nos Açores se situa entre as mais elevadas a nível mundial, mesmo considerando outros ecossistemas insulares.”1
A maior parte das espécies de plantas vasculares endémicas ocorre na maior parte das ilhas e a ausência de algumas espécies em algumas ilhas é consequência das alterações humanas do uso do solo que implicaram extinções locais. O facto de todas as espécies endémicas se encontrarem em praticamente todas as ilhas é característico deste arquipélago uma vez que existem outros arquipélagos, como por exemplo o Hawai, onde é comum encontrarem-se espécies endémicas próprias de cada uma das ilhas. No entanto todos os endemismos açorianos são bastante importantes, já que precisamente por serem poucas as espécies que pelos seus próprios meios colonizaram as ilhas, adaptando-se às condições naturais e criando ecossistemas únicos, a perda de qualquer uma delas terá um impacto enorme na biodiversidade dos Açores e da Macaronésia. Algumas espécies apresentam dupla raridade, ou seja, são raras em termos da espécie propriamente dita e raras em termos de habitat. Existem mesmo algumas espécies de plantas vasculares e de briófitos que estão entre as mais raras da Europa.
O número total de espécies de plantas vasculares presentes em cada ilha oscila entre os 345 para a ilha do Corvo e os 757 para o Faial. As ilhas de São Miguel e do Faial têm os números mais elevados totais de espécies de plantas vasculares mas não têm um maior número de endemismos o que significa a existência de uma elevada percentagem de biodiversidade à custa da introdução de novas espécies. As ilhas que preservam um maior número de endemismos em termos de plantas vasculares são o Pico e a Terceira e a ilha com menor número de espécies endémicas é a Graciosa. De facto, existe uma grande variabilidade no que respeita ao número de espécies endémicas de plantas entre as ilhas mais baixas – Santa Maria e Graciosa – e as restantes, já que a baixa altitude conduz a uma menor pluviosidade e à menor presença de espécies que requerem grandes quantidades de água, como as espécies da laurissilva e das florestas de montanha.
No entanto, não são só as plantas vasculares que contribuem para a biodiversidade destas ilhas. Nos Açores existe uma elevada diversidade de briófitos que se encontram em todos os tipos de substratos, dentro e fora das florestas naturais, formando comunidades complexas e luxuriantes e com elevados valores de biomassa. Estas pequenas plantas primitivas (que incluem os musgos, hepáticas e antocerotas) desempenham um importante papel nos ecossistemas onde ocorrem atuando na retenção e interceção de água e sais minerais e na proteção física dos solos. A sua presença encontra-se associada à pureza dos ecossistemas, tanto atmosférica como da água.
A brioflora dos Açores tem afinidade tanto com a brioflora da Europa Ocidental, de onde provém em grande parte, como com a brioflora da América e de África. A diversidade de espécies é bastante elevada – 475 espécies – e comparável à existente na Madeira e nas Canárias ao contrário do que acontece com as plantas vasculares. Esta profusão está relacionada com a elevada humidade relativa do ar e com a localização central do arquipélago no panorama do Atlântico, que conduz a que os pequenos elementos dispersores aqui possam chegar. As ilhas açorianas de maior dimensão apresentam uma maior riqueza de espécies de briófitos do que as mais pequenas mas a percentagem de endemismos é baixa, existem apenas 7 espécies endémicas de briófitos dos Açores. Existem ainda 27 espécies de briófitos sob algum grau de ameaça na Europa ou no mundo que têm populações estáveis nos Açores. A vegetação dos Açores apresenta características únicas, tanto em termos de plantas vasculares como de briófitos, que deverão ser preservadas.

Referências Bibliográficas:
– Borges, Paulo et al – “Listagem dos organismos terrestres e marinhos dos Açores”. Cascais: Princípia, 2010.
– Dias, Eduardo; Mendes, Cândida – “Sphagnum recurvum P. Beauv. on Terceira, Azores, new to Macaronesia-Europe”. “Journal of Bryology”. 31 (2009) pp. 199-201.
– Silva, Luís et al- “Flora vascular dos Açores: prioridades em conservação”. Ponta Delgada: Amigos dos Açores, Centro de Conservação e Protecção do Ambiente (CCPA).(s/d)
– Silva, Luís et al- “Biogeography of azorean plant invaders”. “Arquipélago: life and marine sciences”. Supplement 2 (Part A) (2000) pp. 19-27.
– Sjögren, Erik – “Azorean bryophyte communities: a revision of differential species”. “Arquipélago: life and marine sciences”. 20A (2003) pp.1-29.

1 SILVA, L. et al (2000). p. 23.

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