Entrada BOLD – “Enoturismo é o futuro da ilha do Pico”, defende Losménio Goulart

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Foi desde muito cedo, no seio familiar, que Losménio Goulart tomou o gosto pela viticultura 
Gostava das vivências no lagar e da vinificação. A colheita era a tarefa que menos o atraía. Aos 18 anos, antes mesmo de se iniciar na vida académica, criou o seu primeiro projeto na produção de vinhos, em terrenos que pertenciam ao seu pai.
Desde então ficou ligado a esta área e em janeiro de 2017 assumiu o lugar de Presidente do Conselho de Administração da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico – Picowines, que conta com cerca 250 associados, entre os quais 160 no ativo.
Ao Tribuna das Ilhas o empresário falou dos projetos que tem para a Cooperativa e para o quadriénio 2017/2021.
 
 
A Cooperativa Vitivinícola da IIha do Pico, CRL, (CVIP) foi criada em 1949 por um grupo de Vitivinicultores com o objetivo de “valorizar o seu produto, conseguir o seu escoamento e uma economia de escala que permitisse chegar a outros mercados”, explica à nossa reportagem Losménio Goulart, Presidente do Conselho de Administração da Picowines.
Depois de um período de organização e construção da sede, em 1961 a Adega da CVIP começa a vinificar produzindo essencialmente vinhos licorosos e comuns a partir das castas nobres, Verdelho, Arinto e Terrantez do Pico.
O primeiro vinho a ser lançado no mercado foi o “Pico” aperitivo, no ano de 1965. Rapidamente constatam que não conseguem viabilizar a estrutura só a vinificar as castas tradicionais e a partir de 1972, introduzem as uvas tintas de produtores diretos, que foram introduzidas na ilha após a devastação do oídio e filoxera.
“As castas americanas foram a forma de viabilizar a cooperativa”, com a produção do conhecido “vinho de cheiro”, que ainda hoje se pode encontrar na Cooperativa, sob a marca “Cavaco”, avança o presidente.
“Desde os anos 90 deixaram de vender vinho à pipa e ao barril e passaram a engarrafar e a rotular. Surge então o primeiro grande vinho designado “Terras de Lava”, enquanto vinho de mesa, que rapidamente se introduziu no mercado ganhando o seu próprio espaço na restauração regional”, em resultado da introdução de novas castas, em paralelo com a renovação dos encepamentos de castas nobres tradicionais e de novas tecnologias na CVIP.
“Depois surge o Frei Gigante, ainda hoje uma das nossas principais referências”, avança. “Vinificado pela primeira vez a partir da colheita de 2003 trata-se de um vinho DOC (denominação de origem). Um Blend de castas tradicionais brancas Arinto dos Açores Terrantês do Pico e Verdelho. O Frei Gigante 2016 conquistou, pelas suas características singulares e Terroir inconfundível, duas medalhas de ouro nos concursos “Portugal WineTro-phy 2017” e “Berlin Trophy 2017”, revela o presidente.
A Adega prepara-se também para lançar em breve o seu mais recente vinho designado por ESPALAMACA “em homenagem ao barco de passageiros que durante décadas navegou no Canal”, anuncia Losménio Goulart.
 A Cooperativa Vitivinícola do Pico – Picowines. CRL, como atualmente é designada, contacom cerca de 250 associados, dos quais 160 se encontram ativos. Em 2015 laborou aproximadamente 500 toneladas de uvas, repartidas entre castas para vinho licoroso, para Vinho Regional Açores (branco e tinto) e para vinho de mesa.
Presentemente tem capacidade instalada para laborar numa só época com 1000 toneladas de uvas.
 
Evolução tecnológica, Enoturismo e  reconhecimento  internacional objetivos a atingir no mandato 2017/2021
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Natural da Candelária ilha do Pico, Losménio Goulart reside na Ilha do Faial, onde é empresário com negócios na área da energia – gás doméstico, logística, bricolage, construção e Jardim.
Em Janeiro de 2017 assumiu a presidência do Conselho de Administração da Adega da CVIP por entender que era fundamental “dar continuidade ao trabalho das anteriores administrações e principalmente das duas últimas que fizeram um trabalho notável na parte de desenvolvimento tecnológico da adega, na procura de novos mercados e de novas portas no mercado nacional e internacional, assim como no reposicionamentodo vinho no contexto mundial”, frisa.
“Senti com outras pessoas que fazem parte desta administração, nomeadamente o vice presidente João Costa que tínhamos um projeto para dar continuidade e melhorar aquilo que, no nosso entender, havia a melhorar, dentro da cooperativa” tendo como base “três linhas de ação”. A evolução tecnológica da Adega, o desenvolvimento do Enoturismo e a internacionalização.
Na parte tecnológica da adega, destaca os investimentos num filtro tangencial, “que custou umas dezenas de milhares de euros, mas que permite uma filtragem do vinho com uma grande poupança a nível de resíduos e menos prejudicial ao ambiente”. Com este Filtro a cooperativa consegue uma poupança de 90% em matéria de desperdício. “Perdiamos milhares de litros nas filtragens e agora reduzimos para 10%, ou seja, conseguimos uma poupança de 90%”, adianta, reforçando que este foi “um grande investimento apoiado pelo programa PRORURAL +”.
Ainda em termos de investimento, o representante dos produtores de vinho revela que a Adega pretende investir numa câmara de frio que irá permitir armazenar as uvas e desta forma “flexibilizar as entregas dos produtores”. “Neste momento, estamos a restringir a entrega das uvas a determinados dias”, explica, acrescentando que “o problema põe-se quando são castas de pequenas quantidades em que há necessidade de centrar num determinado dia o máximo de quilos de uvas uma vez que não se justifica laborar pouca quantidade”.
No entender do presidente, esta condicionante, “por vezes cria problemas ao produtor”. Para o responsável, a câmara vai permitir receber “as uvas durante 7 dias conservá-las com o mesmo nível de qualidade e laborar todas em simultâneo sem ter de estar a alterar sistemas de recepção de uva, nem prejudicar os produtores”, adianta.
Cubas de fermentação com controlo informático da temperatura e uma nova linha de enchimento e rotulagem, são também outros dos investimentos que estão na mira do novo elenco para o próximo quadriénio.
Na área de desenvolvimento do Enoturismo, Losménio pretende apostar nas visitas guiadas à Adega, “com vários pacotes que incluem provas vinhos com mais ou menos vinhos de acordo com o pacote, uma visita mais curta ou o pacote completo que inclui visita a vinhas trabalhadas nos currais, in loco”.
Nesta área o presidente revela que era intenção da Adega duplicar o valor das vendas/visitas este ano, mas já conseguiram triplicar a procura. “O ano passado foi o primeiro ano que se marcou alguma presença regular com uma funcionária específica com formação em viticultura. Tínhamos previsto duplicar mas conseguiremos seguramente triplicar essas vendas diretas na Adega, associando ao pacote de enoturismo uma melhor sinalização e localização da cooperativa no contexto do concelho e da ilha”, avança.
Outra aposta da presidência, é a presença no mercado internacional. “Temos uma pessoa com formação que está a trabalhar no programa estagiar há dois anos. Neste contexto já visitamos este ano a ProWein na Alemanha, fomos a Toronto, onde estamos em contacto para introduzir os nossos vinhos no Canadá. Vamos ter uma participação ainda este mês do nosso coordenador geral e de uma das técnicas responsáveis numa feira em França”, revela. 
Segundo o presidente a Cooperativa já marcou presença na feira de Londres, no ano passado. A antiga direção esteve também na Rússia, “no sentido de voltar a levar os nossos vinhos aquele mercado” e na China “um mercado a apostar ao nível das aguardentes”, adianta. 
Em termos de divulgação e presença Losménio avança que a participação nos certames nacionais e o investimento no mercado regional vão continuar a ser uma prioridade.
O presidente adianta ainda que a “necessidade de sair de portas vem como resposta ao grande aumento de área a cultivada e, consequentemente, do aumento exponencial de produção”.
De acordo com o produtor a área cultivada mais que duplicou nos últimos três anos. “Existem neste momento cerca de 150 hectares de vinhas e de projetos para serem implementados no próximo ano para além dos 750 mil já existentes”, dá a conhecer.
Neste sentido, o empresário prevê “um grande crescimento” no volume de uvas produzidas. Assim, defende que “a Cooperativa como principal responsável e como motor dos vinhos certificados da ilha do Pico, que labora mais de 90% das uvas transformadas em produto certificado, tem que prever outros canais e outras formas de escoar e valorizar o produto, não reduzindo o preço mas acrescentando valor, daí também a aposta na diversificação dos produtos”, reforça.
 
Produção vitivinícola importante para a economia do Pico e dos Açores
 
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A paisagem da cultura da vinha da ilha do Pico, classificada em 2004 como Património Mundial pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura tem colocado os Açores, o Pico e a Madalena no Mundo. Para a ilha do Pico em especial para a Madalena esta atividade tem ganho grande importância.
Losménio defende mesmo que “garantidamente a produção da vinha ligada ao turismo é o futuro do Pico”. O presidente destaca a este respeito que “felizmente não existem grandes unidades hoteleiras na ilha do Pico o que tem dado espaço a que surjam muitas pequenas unidades de turismo rural de grande qualidade”. Segundo o presidente “curiosamente” o Pico “é a ilha com mais espaços destes a nível regional, com muitos projetos que estão a ser desenhados para os próximos anos cada vez mais associados à vinha e à cultura da vinha”, sustenta.
Por outro lado a “questão da Madalena se ter associado aos Municípios produtores de vinho e ter conseguido ser em 2017 a “Capital do Vinho” foi uma excelente iniciativa do Presidente da Câmara José António Soares, que trouxe uma dinâmica e um conhecimento das vinhas e do vinho aos outros municípios do continente”, frisou.
“Estamos a falar em cerca de 26 municípios associados. Trazendo-os cá permitiu perceberem a nossa realidade e a especificidade como VulcanicWines”, tendo em conta, que “existem muito poucas regiões produtoras de vinho com estas características no mundo e com o nosso contexto histórico”, referiu. “Muitos ficam espantados quando só agora ouviram falar dos vinhos do Pico e chegam cá e percebem que a produção de vinho no Pico já tem 500 anos de história”, reforça.
“A culpa não é deles, provavelmente é nossa que não soubemos transmitir as coisas na altura certa”, entende. Esta participação do Município da Madalena nos Municípios produtores de vinho foi “uma excelente iniciativa”, que permitiu trazer gente cá mas que também levou produtores locais a certames e feiras nacionais”, possibilitando “a apresentação dos vinhos, do Pico e da forma como se cultiva a vinha e o vinho que é completamente diferente da forma a que estão habituados e trabalham os espaços verdes”, disse.
Para a evolução e reconhecimento do setor dos vinhos na economia açoriana, foi também muito importante, segundo Losménio “a criação da CVR Comissão Vitivinícola dos Açores e a criação do Laboratório Regional de Enologia, a sua acreditação “uma vez que permitiu a certificação dos vinhos com Denominação de Origem Pico, elevando a qualidade e controlo dos mesmos acabando  com a venda, tal como existiu durante anos, de vinho ao barril e à pipa”.
A Comissão Vitivinícola Regional dos Açores, com sede na Madalena, na ilha do Pico, foi constituída como associação a 22 de agosto de 1995. Trata-se de uma associação constituída por representantes dos interesses profissionais da produção e do comércio dos produtos vitivinícolas dos Açores e por um representante do Governo. As suas funções passam pelo controlo da produção, do comércio e de certificação de produtos vinícolas com direito a DO ou IG (Indicação Geográfica) e tem como objeto garantir a genuinidade e a qualidade dos vinhos, o fomento e o controle dos vinhos, a definição do seu processo produtivo e a promoção e defesa interna e externa dos vinhos certificados.
 
Vinhos do Pico medalhados em concursos internacionais
 
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Os currais, muros construídos em pedra retirada diretamente do solo, erguidos para proteger as videiras dos ventos marítimos ao mesmo tempo que tornam o solo mais facilmente cultivável. 
Estas características “únicas do terreno dão aos vinhos do Pico um terroir inconfundível”, principalmente ao nível dos vinhos brancos, que possuem ainda uma “salinidade e mineralidade única” de “acidez e frescura muito marcada”, reconhecida nos concursos internacionais, revela Losménio.
A este respeito o presidente destaca as duas medalhas de ouro atribuídas ao Frei Gigante 2016 pelo “Portugal WineTrophy 2017” e “Berlin Trophy 2017”, assim como o novo vinho designado ESPALAMACA. “Outrora, a Espalamaca, foi rainha do canal. Hoje navega nos nossos afetos e faz parte da nossa essência Insular” Manuel Tomás Costa
Este precioso néctar feito a partir da casta Arinto dos Açores, foi apresentado no passado dia 21 de julho na abertura da II edição da feira da Vinha e do vinho integrada nas Festas do Município da Madalena, e no entender de Losménio será certamente mais um vinho de excelência da Picowines. Até ao momento conta já com três medalhas em concursos Nacionais e Internacionais: medalha de ouro no concurso internacional Berlin Wine Trophy, medalha de ouro no concurso Portugal Wine Trophy e medalha de prata no concurso de Vinhos de Portugal – referentes a 2017
Segundo o presidente estes prémios aliados à participação nos certames internacionais sem descurar o mercado regional, são fundamentais para o reconhecimento do vinho do Pico. “Não podemos estar só centrados no mercado regional, como vinha acontecendo durante décadas”. “Temos de encontrar novos players no mercado internacional que valorizem os nossos produtos e disponíveis para pagar mais pelo mesmo e assim ressarcir melhor os nossos associados pelo seu trabalho”, entende o responsável. 
 
Produção de vinho nos Açores “reduz-se praticamente ao Pico”
A produção de vinhos nos Açores, resume-se “praticamente ao Pico”, refere Losménio. O presidente explica que “a Graciosa tem uma parcela muito reduzida. Temos alguns produtores no Pico com muito mais área do que toda área explorada na Graciosa”. “Nos Biscoitos a área também é muito restrita, São Miguel tem alguma produção mas o solo do Pico é único”, explica.
No entanto, adianta o presidente da Cooperativa, este setor está a despertar o interesse noutras ilhas, “o Faial por exemplo está a iniciar algumas experiências no Capelo, por três produtores e há alguma expectativa”.
A este respeito, Losménio abre a porta aos produtores faialenses. “A Adega da Cooperativa está disponível desde já para acompanhar o processo e até receber as uvas do Faial, caso considerem conveniente. As areias do Capelo podem dar características diferentes à uva e ao vinho que se pode traduzir num vinho diferenciado”.
Segundo o presidente“ o sector encontra-se de boa saúde”, mas continua a precisar dos subsídios para subsistir. “Eu sempre fui a favor de que os projetos devem ser auto financiados, auto sustentados. Mas tenho a certeza que a vinha e o vinho tal como é trabalhada neste momento, com o processo todo manual, desde a poda, aos sulfatos e a apanha sem qualquer mecanismo não tem viabilidade económica se não for subsidiado”.
Sobre este assunto, o presidente salienta a importância dos apoios do governo através do projeto VITIS – (Regime de Apoio à Reestruturação e Reconversão da Vinha),“que neste quadro está na fase terminal, mas que veio sem dúvida dar um contributo para a área cultivada que temos hoje em dia” e despertar o interesse pela atividade, aliada à classificação da Vinha como Património Mundial da UNESCO.
Para Losménio tanto o VITIS como a classificação da Vinha como património da UNESCO obrigam “a que se mantenham os currais tal como sempre existiram, permitindo apenas pequenas alterações na paisagem designadamente a construção de pequenos arruamentos, e daí que a viabilidade económica desta atividade existe apenas com a subsidiação do processo”. 
Nestes moldes, segundo o presidente para partir “para uma produção não subsidiada teríamos que mecanizar”. A este respeito lembra, “que são as condições de produção que dão a qualidade e o reconhecimento que o vinho tem a nível nacional e internacional”, e que justificam o seu valor no mercado.
A nível dos preços o produtor reconhece que os vinhos do Pico não são baratos.“Os vinhos do Pico não podem ser baratos tendo em conta os custos de produção e de vinificação, em que os produtores, atendendo às fracas produções por hectare, têm que ser mais ou menos bem ressarcidos por aquilo que produzem. É um trabalho duro e a única fonte de rendimento de muitas famílias, completamente vulneráveis às condições climatéricas, uma vez que não existem quaisquer seguros de colheita/ produção”, adianta.
Losménio revela que “o custo de médio de produção de uma garrafa de vinho é elevado. A este valor temos que imputar os custos das rubricas de marketing e publicidade, para deslocações e participação em feiras e certames nacionais e internacionais, e as muitas garrafas de provas oferecidas durante o ano”. “Os vinhos não podem chegar ao mercado a preços baixos. Com a qualidade reconhecida existem mercados que valorizam e estão dispostos a pagar o devido valor”, sustenta.
Se, por um lado, o setor não sobrevive sem os subsídios, por outro lado, revela o produtor, o aumento da produção vai trazer problemas no futuro, nomeadamente em relação à mão de obra, dá a conhecer o presidente, quando questionado sobre as dificuldades que se colocam à produção de vinho no Pico.
“O principal problema do sector no futuro será a falta de mão-de-obra qualificada e sensibilizada para trabalhar as vinhas”. 
“Temos muita gente que vai trabalhando e se vão ajudando uns aos outros. Mas para ter alguma dimensão não podemos trabalhar a vinha só em 20 ou 30 alqueires e para ter mais alqueires temos de ter gente assalariada e com conhecimentos a trabalhar”, considera.
A finalizar e em jeito de balanço, o presidente agora eleito felicitou o empenho e dedicação dos funcionários da CVIP em especial o seu coordenador geral – Thomas Grundmann. 
Deixou também uma palavra de apreço aos outros membros que constituem os corpos sociais da cooperativa em especial aos do conselho de administração assim como às administrações cessantes, “que muito contribuíram para a cooperativa que temos hoje com saúde financeira, ao contrário da maioria das grandes cooperativas a nível nacional”. 
“Financeiramente a nossa cooperativa está controlada o que nos permite fazer estas incursões e estes projetos de participação de uma forma mais ou menos tranquila recorrendo sempre que possível aos programas disponíveis nos quadros comunitários de apoio”, concluiu.

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