Mais palavras não são necessárias

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Aproxima-se o fim de mais um ciclo governativo nos Açores. Ao fim de 16 anos, Carlos César abandonará o governo, encerrará um conjunto de quatro mandatos e concluirá um período de exercício do poder em que, como em tudo, se conjugaram as boas opções com as más decisões.

Uma das opções marcantes deste ciclo governativo foi a concentração do desenvolvimento nalgumas ilhas, investindo aí de forma desproporcionada, deixando a maioria das outras ilhas estagnadas e órfãs de políticas que promovessem as suas potencialidades, ajudassem a combater as assimetrias e facilitassem a fixação e a renovação populacional. Os dados dos últimos censos mostram e provam à exaustão o fracasso deste ciclo governativo no combate a este problema e no desenvolvimento equilibrado e complementar das nove ilhas dos Açores.

Estes resultados são, por isso, a ilustração de uma opção política deliberada, consciente e continuada, que cultivou a primazia dos equilíbrios partidários e dos interesses eleitorais sobre o interesse coletivo e o Bem público. Só nesta perspetiva é possível compreender a gritante e injusta diferença de critérios que neste período caracterizou as opções de investimento.

Nada nos move contra aquilo que se faz nas outras ilhas dos Açores. Antes pelo contrário, só é motivo de congratulação e regozijo vermos a concretização de investimentos desejados e necessários noutras ilhas e que  representam o progresso e a melhoria das condições de vida das suas populações.

Os exemplos que se seguem não pretendem contestar ou sequer discutir esses investimentos. Antes, o que pretendem é provar que, com este Governo e com estes governantes, os critérios, as decisões que determinam os investimentos e a própria concretização dos mesmos não foram nem são iguais para todos. Vejamos:

1. Requalificação da Marginal de Angra – Foi recentemente anunciado que a baía da cidade de Angra do Heroísmo irá ser alvo de obras de requalificação, orçadas em mais de 2,6 milhões de euros. As obras, que começarão no início de Julho e que têm um prazo de execução de 12 meses, envolvem o ordenamento do espaço exterior da área comercial do Porto de Pipas, a requalificação do edifício restaurante/bar da marina, a instalação dos operadores turístico-marítimos e a reparação e requalificação das estradas circundantes, numa extensão de 1.700 metros.

O Governo que financia esta obra, necessária e bem recebida por todos na Terceira, é o mesmo Governo que, em Fevereiro passado veio ao Faial assinar com a Câmara Municipal da Horta um contrato ARAAL para apoiar a realização dos estudos e projetos para a obra de requalificação urbana da frente de mar da cidade da Horta, no valor de 325.000 euros.

Isto é: em Angra avança a obra, o Governo é que paga e custa 2,6 milhões de euros. No Faial, ao fim de mais de 4 anos de esquecimento e de não cumprimento das promessas, entregam-se os estudos à Câmara, ajuda-se com 325 mil euros e sobre a obra e quem a custeará…nada!

Mais palavras não são necessárias!

2. Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica – Entre 16 e 20 de Maio próximo, o Teatro Micaelense será palco da Taça do Mundo de Ginástica Aeróbica, que contará com a participação de mais de uma dezena de Países num total de cerca de 130 atletas, repartidos por cinco categorias.

O Governo que generosamente decidiu apoiar este evento, e com justiça e razão, é o mesmo Governo que, em 2009, se refugiou em formulários e limites orçamentais para reduzir o apoio à realização na Horta do Campeonato Europeu de Esgrima, que traria ao Faial mais de 500 pessoas de cerca de 30 países que durante 7 dias iriam competir nesta ilha, com todas as consequências positivas desse fato.

Isto é: para uns os apoios não faltam e viabilizam justas iniciativas; para o Faial os apoios, exatamente para o mesmo tipo de eventos, são regateados de tal forma que inviabilizam a sua concretização!

Mais palavras não são necessárias!

3. Construção do NONAGON – O Governo acaba de lançar concurso internacional para a construção do Nonagon, Parque de Ciência e Tecnologia de S. Miguel. Trata-se do primeiro de três edifícios de um Parque dirigido ao desenvolvimento das Tecnologias de Informação, Comunicação e monitorização de sistemas de vigilância sísmico-vulcânicos, à formação tecnológica especializada e à dinamização empresarial na área da Ciência e Tecnologia. Este concurso tem como valor base para a construção do primeiro edifício 9 milhões de euros e prevê um prazo de execução de 14 meses.

O Governo que avança para esta importante infraestrutura, é o mesmo que prometeu há anos também para o Faial um Parque Tecnológico, dizendo que "faz sentido que no Faial se avance para a construção de um Parque Tecnológico ligado à investigação marinha". Pois foi esse mesmo Governo que, depois disso, alterou a designação do projeto para "Pólo de Excelência", em vez de Parque Tecnológico, sabendo-se que, como o DOP já é um "Centro de Excelência", desse modo, se acabava com a promessa e com o objetivo inicial de criar no Faial um Parque Tecnológico ligado às atividades relacionadas com o mar.

Isto é: num sítio avança, e bem, um projeto que se considera importante e de efeitos reprodutivos na economia e não se hesita em investir pelo menos 9 milhões de euros. No Faial, muda-se o nome para se descartarem da promessa e ficamos por isso mesmo!

Mais palavras não são necessárias, porque mais exemplos não faltam!

Jorge Costa Pereira


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