O Voo do Cagarro: O problema da coisa

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Frederico Cardigos

Poucas coisas me irritam tanto na comunicação oral em português como a utilização da expressão “coisa”. Quando oiço “coisa”, fico fora de mim. Para além disso, fico perdido… A que se refere a coisa?

– “É mais acima?”, pergunto. – “Sim, perto daquela coisa”, respondem. Não!! Ninguém sabe qual é a “coisa”. Trata-se da loja do Senhor José, da gaiola da Tia Gertrudes, do carro da Dona Felisberta?! Do prego na parede? Ninguém sabe.

– “Está um pouco amargo, mete mais um pouco daquela coisa branca?”. Coisa branca?! Será açúcar, sal ou arsénico? Opto pelo último apenas para provar um ponto de vista.
Usar “coisa” é um perigo fruto da preguiça.

– “Queres alguma coisa?”, perguntam-me. Com prazer traquina, respondo – “Sim”, sabendo perfeitamente a inutilidade da minha resposta que terá de ser seguida de um arrastado – “O que queres, então?”.

– “A verdadeira arte é comunicar em português sem utilizar as expressões “hã” e “coisa” ”, disse-me o meu avô há muito tempo e acrescentou que o nível seguinte é não utilizar a expressão “mas”. Ainda me lembro, até porque não se ficou por aqui.

“Pior, mas muito pior”, disse-me ele com uma voz soturna e grave, “é utilizar expressões como “subir para cima” ou “voar pelo ar”. São pleonasmos de quem está desatento ou tem muito tempo livre”. “Coisa de poetas”, disse com desdém.

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