PAN Açores – “O nosso objetivo é ter uma política de proximidade”, salienta Pedro Neves

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No âmbito da sua visita ao Faial, o representante do PAN – Açores esteve à conversa com o Tribuna das Ilhas onde sublinhou que os militantes do partido não são políticos, são parte da sociedade e almejam transformar a política existente numa política de proximidade entre os partidos e entre o Governo Regional e a sociedade em geral.
Durante a entrevista, Pedro Neves realçou ainda a importância das obras no Porto da Horta para que o Faial continue a ter uma competitividade saudável e justa com as outras ilhas.

Tribuna das Ilhas – O PAN foi formado há menos de 10 anos e já conta com uma representação num município açoriano. Quais os valores e ideais que subjazem ao partido?
Pedro Neves – Os valores são e sempre foram exatamente os mesmos dentro da nossa filosofia. Nós não somos políticos, não almejamos isso e não queremos amplificar a política como ela é neste momento e tem sido desde os anos 80 até agora, não existindo qualquer mutação da mesma.
Nós queremos revitalizar um pouco a política existente onde há uma política governamental e uma política de oposição e não há qualquer ponte entre os partidos relativamente a isso.
Aliás, eu tive a oportunidade de ter uma reunião com o presidente da Câmara onde o próprio admitiu que existe alguma dificuldade de articulação entre os dois maiores partidos que são o PS e o PSD o que por vezes dificulta o trabalho. Tem de haver uma mudança.
É aqui que entra o PAN que não é de esquerda nem de direita, sendo o único partido que não tem uma dicotomia e que é transversal a todos os temas.
Interessam-nos as causas e as pessoas. Não nos interessa se somos de esquerda ou de direita porque isso limita completamente um partido. Um partido que é de esquerda não vai ter uma posição à direita. Nós só queremos fazer pontes com todos os partidos.
TI – O que distingue o PAN dos outros partidos?
PN – Primeiro nós não queremos fazer política, nem somos políticos. Fazemos parte da sociedade. É apenas por acharmos que a política está errada que criamos um partido político.
Eu não sou um político, não me considero como tal. Eu sou um ativista, sempre fui um ativista a vida inteira e agarro nisso para tentar mudar de dentro para fora a política existente.
As pessoas não estão contentes com os partidos existentes. Aliás, se lhes perguntarem se têm uma confiança com um político, as pessoas dizem que não. É também por esta razão que queremos mudar a política e dizer que os políticos podem ser também parte da sociedade.
Os militantes do PAN são pessoas bastante informais e todas as pessoas conhecem esta nossa informalidade e é isso mesmo que queremos mostrar. Queremos ainda mostrar eu almejamos incluir alguns temas necessários que não existem noutros partidos.
Nós somos um partido das minorias e não estamos aqui só pelos votos. O que nos interessa mesmo é aquilo que os outros partidos não trabalharam ou por falta de coragem ou porque estão tão agarrados ao poder há tantos anos que não conseguem ter margem de manobra para falar sobre alguns temas.
TI – O Pedro é militante do PAN praticamente desde a sua criação. O que o motivou a ir mais longe e a candidatar-se a representante do PAN nos Açores?
PN – Eu sou apoiante do PAN desde 2011, desde da sua criação. No entanto, só me tornei militante em 2014. Não fui militante desde do início porque havia uma presidência dentro do PAN que nesse aspeto não era diferente dos outros partidos e para mim fazia confusão ter uma hierarquia formal.
Agora nós não temos presidente, temos é porta-vozes. Temos o nacional que é o André Silva e tenho eu a nível regional para os Açores que servimos apenas para dar voz a todos os militantes.
Por que é que eu dei o passo seguinte? Eu às vezes ainda me questiono sobre isso porque nunca me interessei muito pela política, mas sim pelas causas. Contudo, eu e algumas pessoas ao meu redor no PAN achamos que eu podia dar um bocadinho de mim à política e neste caso como eu vim vier para os Açores senti a necessidade de vir mostrar o PAN aos açorianos.
TI – Que projetos, objetivos e perspetivas tem para o futuro do PAN no arquipélago?
PN – Os objetivos transmutaram-se um pouco desde janeiro até agora, mas continuamos com a nossa força em termos de grupo que é maior do que aquilo que era em janeiro.
O nosso principal objetivo é ter uma política de proximidade. Apesar de continuarem a perguntar o que é que o PAN faz no Faial ou faz aqui nos Açores, as pessoas individualmente sabem o que nós fazemos que é ir mesmo de porta em porta e ouvir os problemas os problemas da população.
Apesar de que não usamos a parte do populismo nesse aspeto e de as pessoas não saberem o que fazemos, nós somos um partido com o qual as pessoas se sentem à vontade para fazer denúncias porque sabem que o PAN vai fazer um acompanhamento do assunto em questão.
Aqui no Faial nós fazemos várias visitas oficiais. Esta semana fomos ao centro de resíduos tivemos uma reunião com o presidente da Câmara, vamos à AFAMA e à Ninovan que são associações animalistas. São estas visitas e ações que queremos empoderar cada vez mais.
Isto não é para as legislativas regionais de 2020, mas para ir a sufrágio nas próximas autárquicas, sabendo à partida que o programa eleitoral que está a ser cumprido por um deputado independente foi um programa elaborado pelo PAN e não por uma pessoa apenas.
TI – O PAN encontra-se de visita ao Faial. Qual foi o objetivo desta visita e da sua presença aqui na ilha?
PN – Desde outubro que venho aqui todos os meses porque acho que tem de haver uma aproximação com o um grupo espetacular que temos aqui. Tal como em São Miguel onde temos uma maior representação, temos mensalmente aqui no Faial assembleias formais internas e eu vou alternando para ouvir as pessoas, para haver proximidade e para as pessoas também sentirem alguma segurança ao dizer: “o PAN está aqui”.
TI – O PAN concorreu pela primeira vez o ano passado e com listas próprias à Câmara e à Assembleia Municipal da Horta, tendo alcançado um lugar na Assembleia. Sente que esta foi uma vitória para o partido?
PN – Foi sem dúvida uma vitória para o partido que mostra uma confiança dos faialenses para com o PAN.
A nossa campanha foi muito forte, foi de acompanhamento, foi de proximidade e, neste caso, foi o que nós queríamos mostrar aos faialenses de que nós podemos ser uma alternativa àquilo que as pessoas já estão um pouco cansadas de ver que é sempre a mesma coisa. Os partidos não são como as equipas de futebol, nós podemos mudar por aquilo que nós apresentamos.
Nós estamos aqui pelas pessoas que votaram em nós e mesmo pelas pessoas que não votaram. Estamos aqui para defendê-las.
TI – Recentemente, o PAN retirou a confiança política ao seu único representante municipal, Hugo Rombeiro. Que comentário faz desta situação?
PN – Foi preciso coragem para o fazer. Isto não foi algo feito de ânimo leve, não foi algo feito de forma rápida e impulsiva. Isto foi algo pensado desde dezembro para verem que foram vários meses de tentativas para que houvesse alguma proximidade entre a pessoa em si e o partido.
Essa confiança existiu até que houve algumas faltas de respeito e nós como um partido que enaltece bem a não violência nas pessoas não podíamos ter isso no nosso próprio partido. A pessoa em questão tentou desvirtuar o nosso partido aqui no Faial e isso obviamente não iriamos aceitar.
Demos-lhe a independência para fazer o trabalho que tinha de ser feito, mas tínhamos um programa eleitoral para cumprir e um grupo de trabalho para trabalhar juntamente com essa pessoa. No entanto, o grupo de trabalho foi rejeitado e nós começámos a ter algumas situações menos prazerosas, mas foi devido também a posições políticas usando o partido do PAN em algumas questões que não defendemos. Essa foi a gota de água.
TI – Qual é a posição do PAN – Açores em relação às grandes aspirações dos faialenses, nomeadamente o aumento da pista do aeroporto, a construção da segunda fase da variante e as obras no porto da Horta?
PN – Nós falámos com o presidente da Câmara ontem relativamente a essas três situações.
Sei que a ilha do Faial necessita para continuar a ser competitiva de um aumento da pista do Aeroporto da Horta com contenção e de forma sustentável, neste caso a nível económico e também ambiental e as pessoas estão a esquecer-se um pouco desta última parte.
Apesar de a Câmara ter tido o cuidado de fazer um relatório preliminar do impacto ambiental, não é um estudo do impacto ambiental per si que tem de ser feito pelo Governo Regional. Contudo, esse relatório preliminar apontava para alguns alertas vermelhos dos quais ninguém falou ou não há nenhum partido que fale em relação a isso.
Esses alertas têm a ver tanto com a nidificação das aves junto do aeroporto pois poderá haver problemas durante a construção e durante esse aumento como também com a qualidade da água para os faialenses.
Eu acho que apesar de todos nós querermos o aumento da pista porque em termos económicos nós continuamos e vamos continuar a ser competitivos com as outras ilhas o que é necessário, porque senão a ilha do Faial fica completamente limitada comparando com a economia das outras ilhas, temos de ter algum cuidado.
O PAN pede que haja um estudo de impacto ambiental bastante coeso e isento relativamente àquilo que é necessário fazer.
Também queremos esse aumento, mas não é para já. Isto é algo que tem de ser trabalhado durante dois, três, quatro anos para que esse aumento sirva para as gerações seguintes porque para já não é uma prioridade. É uma prioridade sim ter um pensamento, ter discussões, ter debates com os outros partidos e com todos os técnicos existentes e depois a partir de aí fazer um aumento sustentável porque daqui a dez anos, se não houver um aumento vai existir um problema em termos económicos aqui na ilha.
Sobre o porto, falámos sobre o espelho de água. Sabemos que é algo que é muito premente em todos os portos nos Açores, não é só aqui. Até se usou na reunião a analogia de se meter uma pedra dentro de um copo de água a transbordar, ou seja, basta haver uma variação do próprio mar e nós deixamos de ter o espelho de água.
Houve problemas no passado e a construção não foi das melhores, mas também teve o seu impacto ambiental porque foi necessário fazer fundos e agora querem fazer a alteração. Porque tanto para mim como para o PAN, mais importante do que o Aeroporto será o Porto para que consigamos receber alguns navios de cruzeiro que não conseguimos neste momento e que são desviados ou para Ponta Delgada ou para a Praia da Vitória que já está a ser preparada para receber os grandes navios de cruzeiro e os grande porta-contentores.
O Faial também tem de ser competitivo e relativamente ao mar não há ilha mais azul do que Faial e até pela sua história. É por isso que temos de dar poder à ilha do Faial tendo em conta a quantidade de pessoas que vêm a esta ilha de propósito devido ao culto dos navegadores de todo o mundo de passarem pela marina da Horta.
TI – Que posição tem o PAN relativamente à atuação do Grupo SATA no serviço público que tem prestado aos açorianos, nomeadamente a posição que tem tido em relação ao Faial?
PN – Primeiro, nós precisamos da SATA. A SATA é pública e faz um serviço porque tem de ser e é quase como se fosse uma obrigatoriedade para com os açorianos e é para isso que a SATA serve.
A SATA tem de ter lucro, mas, obviamente não conseguimos competir com as outras transportadoras aéreas portuguesas, isso é impossível. Mas nós sabemos que a SATA existe para que haja uma ponte entre todas as ilhas e assim uma maior proximidade.
Sabendo isso, não vou falar mal sobre a administração do Grupo SATA, apenas acho que a administração tem de ter outro tipo de escolhas para conseguir ter responsabilidade para com seus os clientes. E quando digo os clientes digo todas as pessoas que precisam de se movimentar dentro do arquipélago.
Posso dar o exemplo que aconteceu há poucas semanas, sobre o qual fizemos um comunicado, relativamente às pessoas que não conseguiram entrar no aeroporto da Horta e tiveram de ir ao Pico e depois não houve sequer qualquer acompanhamento da parte da SATA juntamente com a Secretaria dos Transportes e Infraestruturas e com a Atlânticoline sobre como é que as pessoas iriam do Pico ao Faial num domingo em que não havia qualquer tipo de transporte alternativo devido à greve da Atlânticoline.
Isso para nós é bastante grave porque não houve qualquer sensibilidade da parte deles para que se arranjasse alternativas. Independente das partes técnicas, em que nós não entramos pois não somos técnicos, o que é que se passou, porque é que não conseguiram aterrar aqui, obviamente não vamos falar sobre isso, mas temos de fazer um acompanhamento. Se não há esse acompanhamento as pessoas deixam de ter confiança numa transportadora aérea que devia ser de todos nós.
Agora, não será culpa da SATA apenas. Tem de haver também um investimento das transportadoras aéreas para continuarem a trabalhar aqui nos Açores. E é isso que nós queremos. Quanto mais competição existir em termos de transportadoras aéreas, mais disponibilidade de janelas nós temos para conseguirmos entrar e sair do Faial.
Neste momento, achamos que a SATA não está a ser sensível com a ilha do Faial comparativamente com as outras ilhas, não há aqui justiça nesse aspeto. Eu acho que a administração deveria ter um cuidado muito maior para que houvesse mais disponibilidade em termos de viagens de e para o Faial o que não está a acontecer neste momento comparativamente com o aumento das outras ilhas e comparativamente com o aumento do turismo que é expectável e está a haver em todo o arquipélago.
TI – Como é que o PAN – Açores vê a atuação do Governo Regional nos últimos anos, sobretudo nas áreas diretamente relacionadas com o objeto PAN, ou seja, as Pessoas, os Animais e a Natureza?
PN – É muito simples. Quanto temos uma maioria absoluta deixamos de ter um governo democrático para ter um tipo de oligarquia ou um tipo de ditadura. Não me posso queixar entre o PAN e o Governo Regional relativamente aos temas que para nós são prementes, são necessários e são aquilo que nós defendemos, mas achamos que o Governo Regional fala muito e usa um tipo de comunicação ambígua que não é objetiva nem direta. As pessoas estão um bocadinho cansadas de ver que não há qualquer tipo de alteração.
É isto que nos faz um pouco de confusão: porque é que o Governo Regional não faz uma aproximação maior?
Sabemos que perante uma maioria absoluta existe uma tendência para a falta de diálogo, tanto nos Açores, como a nível nacional. Quando existe uma maioria absoluta fecha-se as conversações e toma-se decisões, mas o pior disso tudo é quando começa o desleixo onde as pessoas não têm cuidado com aquilo que vão decidir.
Neste momento, acho que existem algumas prioridades do Governo Regional que não deviam ser prioridades e talvez devessem cumprir com o programa eleitoral que foi prometido em 2016 e não estamos a ver nenhuma alteração relativamente a isso. É isso que nos custa mais: as tais promessas vãs que depois com uma maioria absoluta não se faz absolutamente nada.
TI – A saúde, a educação e o ambiente são também áreas preocupantes nos Açores. No seu entender, que medidas serão necessárias para as melhorar e adequar aos princípios defendidos pelo PAN Açores?
PN – Começando pela educação, tendo em conta os indicadores que foram mostrados há pouco tempo e dos quais os Governo Regional enalteceu temos de dar os parabéns. Não sobre os indicadores comparados com Portugal continental, porque não o podemos fazer, mas sim com aquilo que tínhamos há uns anos atrás.
Existe um aumento de qualidade que nós temos de obviamente defender e não há forma de fugir. Contudo, existem ainda formas que têm de ser trabalhadas com mais algum cuidado na educação e numa educação também alternativa que cada vez é mais pedida aqui na ilha do Faial e também em São Miguel.
O Governo Regional aceitou que houvesse uma alternativa à educação existente neste momento, proposta até pela Associação Novas Rotas e que já está a ser implementada. Esta abertura em termos de educação já é uma vitória pelo que só temos de dar os parabéns ao secretário regional da Educação por isso.
Sobre a saúde. Eu iria ter um discurso sobre a saúde do qual não vou ter agora depois da notícia que ouvi relativamente ao hospital particular que vai haver na Lagoa em São Miguel e que está a mudar o posicionamento do Governo Regional relativamente à saúde e de tudo aquilo que tem sido falado durante anos.
Agora temos um hospital particular que vai ter verbas públicas governamentais dos Açores o que nos faz ter aqui quase uma situação bipolar do Governo Regional que anda à sombra do vento.
O PAN foi o primeiro a falar deste hospital privado que vai ser subsidiado por todos os contribuintes açorianos e que não entendemos quando temos é de empoderar os hospitais e a saúde pública que temos. E nós vemos isso tendo em conta o hospital que está aqui e que precisa cada vez mais de verbas para conseguir trabalhar com aquilo que tem e para que alguns departamentos consigam ter tecnologia de topo.
No entanto, estamos a desviar as verbas para um hospital particular que obviamente em termos económicos será muito proveitoso, tanto para o Governo Regional como para a empresa particular, mas eu não vejo proveito algum para os açorianos em si.
Continuamos a defender que a saúde tem de ser pública, tem de ser gratuita para todos os açorianos e temos algum receio do que acontecerá aos Açores daqui a uns anos quando quiserem fazer exatamente o mesmo em todas as ilhas.
Acho que nós vamos perder e tendo em conta que o SNS e SRS são algo que nós devemos defender e temos defendido durante anos, acho que temos de nos adaptar à realidade neste momento, mas que ela seja gratuita para todas as pessoas.

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