Faz um mês que publiquei neste espaço um texto sobre a “inexplicável” recusa de classificação da Casa do Pilar pelo Governo Regional, na sequência de outro de Isabel Albergaria publicado no Açoriano Oriental pouco antes. Terão estes e anteriores apelos chegado a bom porto, pois na semana seguinte a CMH iniciou o procedimento de classificação do Pilar como Imóvel de Interesse Municipal. Esta decisão não só garante a sua imediata protecção, como representa uma atitude forte e a vários títulos inédita do município nesta matéria. De facto, apesar de existir há décadas uma lista indicativa de património a classificar a nível municipal, este é o primeiro processo do género até hoje no concelho.
No dia seguinte ao despacho, e após muitas questões por parte de cidadãos e de discussões nas redes sociais, a câmara emitiu um esclarecimento sobre a intervenção da Frente Mar e o seu efeito na antiga muralha da cidade, que jaz parcialmente enterrada debaixo da avenida. Ficámos então a saber que a DRAC não tinha ainda autorizado o acompanhamento arqueológico da obra, apesar do pedido da câmara meses antes. Nesse mesmo dia recebi um ofício da DRAC acusando recepção de uma queixa sobre o assunto (não fui o único). Poucos dias depois estava dada a ordem e a obra está já a ter acompanhamento arqueológico. Na semana seguinte recebemos também um esclarecimento público do presidente da Câmara, onde explicou que estava prevista a destruição do topo da muralha em certas zonas, essencial para o nivelamento do piso e passagem de canalizações, e ainda que iria ser estudado com o projectista uma alteração que incluísse deixar à vista um troço da muralha, uma intervenção simples, mas que valorizará em muito o local e permitirá contar uma parte da História da cidade da qual resta muito pouco para mostrar.
Pelo meio disto tudo foi adjudicado o projecto da Trinity House, que receberá o terceiro pólo do Museu da Horta, cujo resultado do concurso público demorou estranhamente a ser conhecido e deixou no ar a sensação de que se repetiria a vetusta tradição de adiar eternamente os compromissos feitos pela Região aos faialenses. Sobre isso, por educação e bom senso, nada mais direi (para já…).
Muito mais haveria a dizer sobre estes casos, mas o texto já vai longo. A ideia principal que levámos destes dias é que quando nos unimos e mexemos conseguimos mover montanhas. Temos neste momento uma câmara que mostrou que está atenta ao património, aberta ao diálogo e sem medo de defender as suas posições em prol da ilha, mas temos também muita gente a barafustar, cidadãos a dirigir-se formalmente às entidades e, nalguns casos, a oferecerem-se para servir de barreira humana ao caterpillar se isso for útil. O que faz toda a diferença. Não nos tivesse bastado o caso do Relógio, aprendemos agora a lição em definitivo – é preciso arregaçar as mangas e agir desde o primeiro momento. E por essas ilhas já muita gente percebeu que o Faial está a acordar…
Daqui em diante há que continuar a mexer em conjunto para ter resultados, como se viu no Pilar, caso contrário mais vale mandar vir o caterpillar e alisar a cidade de ponta a ponta a bem do “progresso”.
Fica a reflexão.
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Em defesa da Língua Portuguesa, o autor deste texto não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconsistente, incoerente e inconstitucional (para além de comprovadamente promover a iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).