Turismo Acessível para Todos

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“No dia 21 de setembro de 2012, na Assembleia da República, foi aprovada em Resolução o desenvolvimento de uma estratégia integrada que promova o Turismo Acessível ou Turismo para Todos em Portugal. A Resolução refere, e passo a citar: “A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo que desenvolva um programa estruturado com linhas orientadoras para os diversos atores do setor do turismo, por forma a que, no prazo de 12 meses, Portugal possa ser apresentado como um destino atento às necessidades, quer do ‘viajante portador de deficiência’, quer das ‘pessoas com mobilidade reduzida’”.

Através de uma análise exaustiva sobre o tema do Turismo Acessível ou o Turismo para Todos, este pode ser definido como sendo os serviços, estruturas e infraestruturas que facilitem o acesso autónomo a locais de interesse turístico e outros, a qualquer tipo de pessoa, independentemente do seu estado biopsicosociológico. Antes de abordar a questão económica e financeira, intrinsecamente ligada ao Turismo Acessível, é necessário sublinhar e reter que estamos a falar de pessoas que constituem e fazem parte do sistema social e de coesão de uma sociedade cada vez mais responsável e exigente.

Esta predefinição do Turismo Acessível (TA) reforça a opinião que a incapacidade não se limita, única e exclusivamente, à sua dimensão da deficiência (permanente ou temporária), mas alberga outras situações em que os turistas possuam mobilidade condicionada.

Apesar dos esforços feitos por diversas entidades e organismos sobre esta questão, o debate a nível internacional sobre o desenvolvimento de produtos turísticos acessíveis, bem como a consciencialização da sociedade, a acessibilidade dos bens e serviços, estruturas e infraestruturas para pessoas com mobilidade condicionada ou reduzida continua a ser insuficiente.

Segundo Darcy (1996), o Turismo Acessível deve ser entendido e encarado como “o conjunto de serviços e infra-estruturas capazes de permitir às pessoas com necessidades especiais apreciar as suas férias e tempos de lazer sem barreiras ou problemas particulares. Deste ponto de vista, assume-se, por um lado, que as infraestruturas usadas pelos turistas devem ser livres de barreiras arquitetónicas e, não menos importante, que deve ser promovido um acesso não apenas físico, mas também cognitivo e sensorial, que possibilite usufruir das atividades turísticas de forma segura, confortável e tão acessível quanto possível”.

Também Devile (2009) refere que “por vezes centrada na disponibilização de serviços turísticos adequados para pessoas com algum tipo de deficiência, a oferta turística acessível deve ser entendida num quadro muito mais alargado de públicos diferenciados, que incluem também, as pessoas que manifestam incapacidade temporária resultante de um acidente ou doença, as que viajam com crianças pequenas ou com idosos, mulheres em avançado estado de gravidez, pessoas com excesso de peso, entre outras situações”.

Como foi referido anteriormente, o tema do TA, fazendo parte da responsabilização social e da cidadania, alberga igualmente, uma componente económica pertinente, mas nem sempre valorizada pelos organismos e entidades ligadas à indústria turística.

Através da análise dos dados de entidades ligadas às questões demográficas e de envelhecimento, elas apontam para um aumento de viagens realizadas por pessoas com mobilidade reduzida. Segundo a WHO (2007) em 2020 haverá 1,2 mil milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade sendo este fenómeno mais acentuado nos principais mercados emissores. Estas tendências têm implicações consideráveis para o turismo global (Dwyer, Forsyth, & Spurr, 2004).

Associado ao envelhecimento demográfico e à falta de mobilidade, bem como o aumento do rendimento por parte das pessoas com deficiência, devido às questões de igualdade e acesso ao mercado de trabalho e de outras políticas inclusivas, leva igualmente ao aumento do número de pessoas detentoras das condições económicas para viajar. Esta questão não deve ser menosprezada, já que as suas decisões em relação ao destino turístico são baseadas nas condições de acessibilidade oferecida.

Segundo um estudo, existe “cerca de 600 milhões de pessoas com deficiências (Fujiura & Rutkowskikmitta 2001), o que equivale a cerca de 10% da população mundial. De acordo com Buhalis et al. (2005), os índices maiores de deficiência na UE encontram-se na Finlândia, no Reino Unido, na Holanda e em França, atingindo 10 930 milhares de pessoas só no Reino Unido. Segundo o mesmo estudo, 37% da população com necessidades especiais na UE tem a sua mobilidade reduzida. Na Europa 59% da população tem um familiar com mobilidade reduzida e 47% da população tem um amigo com as mesmas necessidades especiais. Do ponto de vista turístico, este efeito multiplicador é de extrema relevância, uma vez que mais de 80% dos turistas com mobilidade reduzida viajam com familiares e/ou amigos (Buhalis et al., 2005)”.

“Nas duas últimas décadas têm vindo a ser produzidos alguns relatórios que procuram chamar a atenção para o potencial de mercado dos turistas com incapacidade. O primeiro, publicado em 1993, identificou um gasto potencial de 17 mil milhões de libras na Europa se estivessem disponíveis as estruturas adequadas (Touche Ross, 1993). Burnett e Baker (2001) chamaram a atenção para o rendimento discricionário deste grupo nos EUA, salientando que este é um mercado de 50 milhões de norte americanos para o qual o setor do turismo não está atento. Outros autores (Packer, Yau e Lam 2003; Murray e Sproats 1990; Ray e Ryder2003) salientam que, associado à família e amigos, as pessoas com deficiência criam um mercado potencialmente significativo, mas muitas vezes ignorado”.

Curioso de referir que a investigação realizada por Neuman e Reuber em 2004 sobre os estímulos económicos concretos decorrentes da implementação do “Turismo Acessível para Todos” na Alemanha “estima que os turistas alemães com deficiência contribuem com cerca de 2,5 € mil milhões para a economia. Um outro dado resultante deste estudo que merece destaque é que para 75,8% dos turistas com incapacidade, a existência e disponibilidade de meios adequados que lhes permita a livre movimentação influência a respetiva escolha quanto ao destino de férias, sendo que a maioria dos inquiridos (62,3%) não se importaria de pagar um preço superior se pudesse utilizar facilidades e serviços acessíveis, tendo ainda 50% afirmado que viajaria mais se houvesse mais acessibilidade (Neuman & Reuber 2004). Em termos de valor económico, o mesmo estudo conclui que, se for tido em consideração o montante utilizado para passar férias por cada indivíduo com incapacidade, e o facto de viajarem quase sempre acompanhados, o retorno anual com turistas alemães com incapacidade poderá estar compreendido entre € 2,5 e € 4,8 mil milhões num ambiente turístico acessível. Importa, assim, salientar o efeito multiplicador dos acompanhantes, nomeadamente famílias constituídas por pessoas com algum tipo de incapacidade. Ao quantificar o valor económico deste segmento, estes factores devem ser também considerados, partindo da premissa básica de que as pessoas viajam com amigos e membros da família que não tem incapacidade”.

Para concluir, refiro que o desenvolvimento de produtos turísticos acessíveis, aumenta exponencialmente a capacidade de atração e fidelização de clientes no destino turístico, fortalece igualmente a competitividade do destino e potencia o aumento significativo da ocupação na época baixa. Segundo Burnett & Baker (2001) um dos factores que merece maior destaque é o alto nível de fidelização dos turistas que, quando satisfeitos com as condições, serviços, estruturas e infraestruturas, tendem a regressar aos mesmos destinos que lhe garantem experiências seguras e sem obstáculos.»

Excerto do projeto draft no âmbito de uma investigação.

 

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